Às vezes me pego olhando algo ou alguém como se fosse a primeira e última vez. Como um lapso no qual eu, no futuro, encarno e desperto no meu corpo presente apenas para vivenciar situações que já se foram.
Passar um milésimo de segundo a mais com aquela pessoa adorada e seu sorriso amável ou seu olhar distraído e inadvertido.
Afagar meu cão e o meu gato mais uma vez, sentir a textura dos pelos e a respiração que faz subir e descer o peito sonolento.
Observar minha mãe se arrumando para o trabalho com mais atenção, sentir o calor do secador de cabelo e o perfume adocicado que se pronuncia nos vapores do banho.
Tocar minhas plantas na varanda, inspirar a brisa úmida da terra recém aguada e interpretar as poucas nuvens que flutuam no céu muito azul.
É inacreditável como sou afortunada. Desejo ardentemente que o momento não se vá, até que ele se torna, por um instante, infinito. Para depois escorregar etéreo como o véu de Maya.
Silêncio. Paz. Gratidão.