Recentemente, pude verificar, com muita tristeza, a linha de pensamento jovem da atualidade a respeito das relações pessoais, ou ao menos de uma parte dos jovens. Após anos rumo à evolução, ou como diria um amigo meu, após anos seguindo numa ordem crescente, constato um regresso de âmbito militar, ditatorial, uma ordem decrescente. Não pretendo me demorar nisso, mas explico a teoria: a humanidade vem evoluindo no decorrer dos anos e na década de 60 e 70 várias questões lançadas anteriormente foram de fato discutidas e colocadas em prática, propostas culturais e ideológicas alternativas, as quais pretenderam modificar a ordem social vigente. Eu não estava presente, é claro, mas faço parte do fruto disso e posso notar, por efeito de comparação e reflexão, que graças aos projetos anteriores temos consciência ambiental, não apoiamos a discriminação, a guerra e a desigualdade. Graças a essas rupturas, aos valores presentes naquela época, é possível vislumbrar outros caminhos para se percorrer nesta vida, caminhos nem sempre reconhecidos.
Não por sua iniciativa, mas por seus ideais, o PJP (Parlamento Jovem Paulista) revelou uma imaturidade assombrosa ao propor um projeto de lei claramente repressor, cujo objetivo é censurar e punir o contato físico entre os jovens, sugerindo obscenidade em manifestações de afeto. São sete artigos muito esclarecedores do projeto de lei 67/2009, assinado por Carolina Loures Thomé, dentre os quais cito:
Artigo 1º - Os/as alunos/as das escolas públicas e particulares ficam proibidos/as de namorar com intimidades, beijos e abraços dentro das dependências escolares.
Artigo 2º - Será considerado namoro íntimo se o casal de adolescentes estiver se beijando ou abraçando ou, ainda, isolado do grupo de colegas.
É difícil acreditar na existência de tal proposta, é doloroso, sobretudo, constatar que tenha partido de uma jovem, mesmo após tantos outros jovens, cujos ideais e cujas lutas seguissem por um caminho completamente diverso.
Se a sexualidade ainda é tabu, se há casos frequentes de doenças sexualmente transmissíveis, se ainda existe constrangimento em relação ao assunto, se o sexo é mistificado, se o corpo, o amor, o desejo e suas manifestações são ainda banalizados, não é por causa da disseminada livre expressão, mas porque a sociedade em si é doentia, repressora e pervertida e porque confunde naturalidade com obscenidade.
Com tantas questões de urgência a serem resolvidas, tais como o sistema de coleta seletiva de lixo praticamente inexistente (se comparada ao sistema tradicional), a violência, a fome, a poluição e a miséria econômica e intelectual, é inconcebível a idéia de pessoas priorizarem a repressão quase Inquisitiva aos jovens. Se estes manifestam desejo e carinho de maneira banalizada e/ou promíscua, é por conta da disseminação de uma mentalidade absolutamente maliciosa, a qual não poderia gerar outro comportamento senão o próprio reflexo disso, de uma falta de instrução emocional e sexual verdadeira, sensível e natural.
É triste, ainda, notar como a massificação da humanidade torna as pessoas tão padronizadas e industrializadas ao ponto de verificar jovens priorizando, acima de tudo, os estudos, o vestibular, a entrada num Ensino Superior e a vida profissional, excluindo as relações pessoais, a sensibilidade, a manutenção emocional, a lucidez, o auto-aprimoramento, enfim.
Não tenho a intenção de ser nostálgica, mesmo porque não acredito verdadeiramente na nostalgia, mas na permanência de aspectos positivos do passado. Tendo isso em mente, prefiro acreditar que as lutas e os debates culturais da década de 60 não foram em vão, que a maioria dos jovens discorda, mesmo intuitivamente, deste projeto de lei. Eu prefiro acreditar na evolução da humanidade, apesar de tendências simpatizantes a valores retrógados de uma época pouco elucidativa. Eu prefiro, enfim, acreditar e apelar ao que há de mais íntimo e sensível nas pessoas, àquela consciência sútil, com a qual somos capazes de acreditar, esperar e lutar por um mundo melhor.
P.S.: Como o PJP é apenas uma simulação da Assembleia Legislativa, seus projetos não entram em vigor.
2 comentários:
"Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina, Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens,Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua,É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz"
Como a uns anos cantava a voz da Elis...
Como muitas outras vozes entoaram um refrão pelo mundo: "Faça amor, não faça guerra".
Deste mesmo modo grito agora:
L-I-B-E-R-D-A-D-E!
Pelas meninas apaixonadas,
Pelos primeiros beijos atrás do colégio.
Pelas briguinhas entre amigos que não sabem ainda o que é este novo sentimento,
Pelo ABC do amor escolar...e seus dourados anos de coração de estudante!
Tinha escrito um comentário muito mais revoltante, mas deu erro e não tinha salvo, fico com este mais romantico e calmo e termino com a frase:
Sou livre, logo existo.
Livre pra pensar, pra existir, pra amar...porque não pra dar uns amassos no portão da escola?
Alguns vão para frente, muitos vão para trás... assim caminha a humanidade. Mas também prefiro acreditar que esse pensamento dessa menina trata-se de um excessão. Afinal, uma sociedade não caminha rumo à tolerância através da proibição e penalização...
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