sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Nós vemos TV demais


Em algumas situações, quando tenho a possibilidade de medir minhas palavras, de rascunhar minhas ações, às vezes me pego quase como se estivesse ensaiando para uma peça.

Quando percebo, minhas afirmações são como um déjà vu, e minha vida ganha narração em off, close up, trilha sonora e luz dura.

De repente, sou um clichê televisivo, e tento decidir qual roteiro eu vou seguir: se aposto numa cena de comédia romântica e arrisco tudo por achar que o mundo é perfeito, ou se assumo logo um drama e largo tudo por achar que nada vale a pena.

Se estou mais Carrie, mais Meredith, ou mais Olivia.... Se devo ser calma e sábia como o Aang, íntegra e corajosa como o Kenshin ou jogar tudo aos ares e explodir como o InuYasha

Se encaro o meu dia como na cena de "Cantando na chuva" ou como na cena de "Moulin Rouge". Se minha vida é um filme da Disney e, não importa o que aconteça, querendo ou não, eu vou ter um príncipe encantado no final da história. Ou se estou eternamente confinada a um filme do Bergman.

Se eu devo agraciar meus ouvintes com uma reflexão verborrágica como um dos personagens do Woody Allen ou se devo agir calada como a Amélie Poulain. Se luto pelo amor e pela justiça como a Sailor Moon ou se justifico a minha luta como num filme do Chan-wook Park.

Ou se eu assumo que tenho um pouco disso tudo, e que um pouco disso tudo tem também um tanto de mim, e compreendo a verdadeira natureza por trás desses retratos: somos humanos e compartilhamos das mesmas dores, mesmas incertezas e mesmas alegrias. Mesmo atrás da telinha.

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