quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Tempo para si


A louça para lavar tem sido a minha bênção. É lavando pratos, panelas e talheres que consigo colocar meus pensamentos em ordem, entender meus processos mentais, meus bloqueios. Normalmente, porém, não gostaria de realizar tal tarefa, assim como não gosto de me empenhar noutras atividades domésticas. 

Talvez este seja o mal da sociedade contemporânea: ninguém gosta de gastar muito tempo fazendo algo totalmente para si mesmo. Há uma ansiedade geral em poupar este tempo consigo para gastar com trabalhos para terceiros. Então, muitas vezes, quando você dá aquele gás no escritório, sua própria casa começa a ruir pouco a pouco.


Eu, por exemplo, não gosto de sentir que me prolongo para fazer algo básico, como cozinhar, quando deveria estar fazendo qualquer outra coisa que se reverta em dinheiro. Deste modo, uma tarefa cotidiana trivial se torna enfadonha e parece levar uma eternidade. Por crer que deveria custar menos tempo, tenho a impressão de que requisita um esforço muito maior para ser concluída.

Esqueço, entretanto, que cada tarefa leva o seu determinado tempo para ser concluída e este tempo precisa ser respeitado. E, ironicamente, uma simples atividade doméstica pode ser aquilo que te coloca no eixo de novo, porque te tira das tumultuosas redes sociais, ocupa as mãos e, por exigir atenção, também ocupa a mente, que antes estava presa a pensamentos estressantes, obsessivos, ou largada numa perigosa ociosidade e paranóia.


Tanto quanto um dia no spa, lavar uma louça, no final das contas, pode ser aquilo que faltava para tranquilizar as emoções. Dedicar mais tempo às tarefas domésticas, cuidar do próprio espaço e da própria sujeira é ser responsável por si e ser respeitoso consigo mesmo.


Dica: isso vale para mulheres E homens. Nunca é demais lembrar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016


Todas essas silenciosas partes do meu corpo, que não escuto, mas que ouvem cada uma das coisas que eu digo, impotentes.
Talvez se manifestem em doenças, talvez sejam na verdade poderosas.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Justiça social


Às vezes deixar que as pessoas te ajudem, fazer elas se sentirem úteis, também é um gesto de afeto. 

Uma vez estava no carro com a minha mãe, parada no farol. Veio uma senhora com algumas poucas balas nas mãos querendo vendê-las, mas minha mãe, achando que estava ajudando, recusou as balas para que ela economizasse seu escasso produto, e quis dar dinheiro a ela sem levar nada em troca. A senhora começou a chorar e a pedir para que a minha mãe comprasse as balas: "Não... Compra as balinhas...", insistiu. Neste instante de confusão, o farol abriu e minha mãe saiu com o carro sem dar o dinheiro e nem comprar as balas.


Neste episódio, ficou claro para mim o quanto respeitar o próximo, preservar a dignidade do outro, muitas vezes é um sinal de gentileza muito maior do que a velha e boa "caridade". Ao invés disso, prefiro o conceito de "justiça social", aprendido em anos de colégio judaico. Tratar as pessoas, independente da classe social, da faixa etária, do grau de instrução, da etnia, da aparência e do gênero com o mesmo respeito; auxiliar sem desmerecer, oferecer meios e ferramentas sem rebaixar.

Quando uma pessoa procura te ajudar com sinceridade no coração, aceitar a ajuda de peito aberto e com gratidão muitas vezes é tudo o que elas desejam em retorno. Permitir que a pessoa se sinta de fato útil.

Quando alguém oferecer para pagar a conta, não brigue nem insista, não há necessidade disso. Agradeça e retribua depois. Aceite este gesto de gentileza. Você pode não saber, mas talvez tudo o que aquela pessoa precisava naquele dia era sentir que o dinheiro dela estava sendo valorizado por outros, que ela pode contribuir para o bem-estar alheio.
Isso dignifica, aumenta o senso de importância que alguém tem de si mesmo.


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