sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Enxergar


Hoje estava enxergando tão bem, que, algumas vezes, durante os trajetos de ônibus, me assustei por não saber onde estava.

Ou... 

Será possível que, durante este tempo todo, estava enxergando tão mal assim?

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Estrangeira


Hoje me estranhei em tudo, desentendi meu lar, não me reconheci em nada.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Brasil


Às vezes eu tenho a impressão de que quando não existe crise, se inventa uma. O Brasil, por não ser ameaçado pelas forças da natureza, nem viver em guerra, criou a própria crise: a corrupção.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Sobre o direito de expressão


Você acredita que, por vivermos numa democracia, você tem o direito de fazer o que bem entender. 

Você acredita que, por vivermos num país livre, você tem o direito a expressar qualquer coisa.

Mas eu acho que não é bem assim.

Na minha opinião, as pessoas não tem o direito de expressar ódio contra outras pessoas. As pessoas não tem o direito de comunicar seu ódio contra outros, apenas porque pertencem a diferentes etnias, a diferentes religiões, a diferentes orientações sexuais, a diferente gênero, a diferentes ideais. 

Ninguém tem o direito de promover a intolerância, o preconceito e a guerra, porque quem expressa ódio, só gera ódio. E, por este motivo, acredito que você pode ser quem você quiser, viver como quiser, agir como quiser, falar o que quiser, contanto que não esteja ferindo outras pessoas, direta ou indiretamente.

Viva e deixe viver.

Simples assim.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Feminismo



Às vezes tenho as minhas dúvidas em relação à luta pela igualdade entre homens e mulheres no Brasil. Não tenho muita certeza do que isso significa, afinal. Na realidade, tenho a impressão de que, na condição de "iguais", nós, mulheres, precisamos compartilhar com os homens todos os deveres*, sem antes terem nos concedido todos os direitos.

O patriarcalismo ainda está muito presente nas nossas vidas, e este mesmo sistema:

- ainda permite salários menores a mulheres em mesmos cargos que homens.
- ainda considera top less atentado ao pudor e aconselha, cinicamente, que as mulheres se vistam de forma "apropriada", ao invés de educar seus homens a respeitá-las.
- ainda acredita que mulher solteira é "tia" e mulher que se relaciona livremente é "vagabunda".
- ainda ignora a violência doméstica.
- ainda exige um padrão bastante autoritário de beleza feminina.
- ainda impõe que as mulheres se sentem de pernas bem fechadas, enquanto os homens podem se sentar à vontade, ocupando o dobro do espaço.
- ainda incentiva estereótipos, os quais servem apenas para dividir as pessoas.
- ainda ilude e aliena, ensinando que o casamento é a única opção de relacionamento afetivo.
- ainda considera o corpo feminino mero objeto.
- entre outras tantas afrontas, umas tantas seríssimas, observadas não apenas na cultura brasileira, mas em outros povos ao redor do mundo.

Às vezes acredito que a solução esteja em, antes de qualquer coisa, a humanidade como um todo começar valorizar e reverenciar a mulher, para que alcancemos o mesmo patamar no qual os homens se colocaram brutalmente ao longo da história.



*ainda não foi imposto às mulheres o serviço militar obrigatório no Brasil, mas já ouvi pessoas discursarem a favor disso, como se fosse um passo essencial para a igualdade entre gêneros.

Obs: Felizmente conheço muitos homens que não compartilham da visão patriarcal de mundo, e os amo profundamente.



terça-feira, 6 de novembro de 2012

A arte de rir



 "It takes time to be funny. It takes time to extract joy from life."

A cena acima não está completa, recomendo que a assistam na íntegra. Aliás, recomendo que assistam ao filme todo, logo de uma vez: "Elizabethtown" ou, em português, "Tudo acontece em Elizabethtown". 

Esta cena é, provavelmente, uma das mais emocionantes que já assisti. É profundamente bela, porque retrata a arte de enxergar a alegria na vida, de rir de si, de ser feliz, não importa as circunstâncias.

Vegetarianismo


Não lembro por qual razão comecei a pensar assim, mas lembro que, com uns 13 anos de idade, já admirava secretamente essas pessoas chamadas "vegetarianas". Mesmo sem ter nenhum motivo concreto, achava a ideia de não comer carnes mais correta. De alguma forma, era claro para mim que não se alimentar de animais era melhor, mais nobre, mais lógico.

Quando mudei da minha pequena e fechada escola judaica para uma enorme escola tradicional, a qual tinha em cada série uma média de 200 alunos de diversas origens, crenças e filosofias, conheci quem acabou se tornando a minha amiga mais próxima da época. E ela era vegetariana.

Foi acompanhando a rotina dela, frequentando sua casa, compartilhando sua comida, que pude, de fato, entender como funciona o vegetarianismo, conhecer as opções variadas e saborosas de alimentação, os restaurantes e as ideias. Eu já sabia que não era positivo comer carnes, talvez por causa da criação judaica, através da qual aprendi sobre a comida kasher, sobre se alimentar de animais sem lhes causar dor, mas não sabia o quanto era vasto este sofrimento e não havia notado o quão bárbaro e gratuito é comer outros animais.

Um dia minha amiga me contou que estava em processo de se tornar vegana, ou seja, de se alimentar de comida sem origem animal. Não fiquei exatamente surpresa, mas apostei: "quando você virar vegana, eu viro vegetariana." Acredito que eu, no alto dos meus 15 anos, precisava de um estímulo mais divertido, como uma aposta, para levar a ideia adiante, ou talvez eu só precisasse mesmo de um prazo, determinar para mim mesma quando esta mudança ocorreria. Uma promessa pessoal, um compromisso comigo mesma.

Poucos meses depois ela me trouxe a notícia de que começaria o veganismo. Naquele dia, fiz como quem se via derrotada, por precisar cumprir com uma promessa, mas no fundo estava contente e logo à noite perguntei à minha mãe se poderia virar vegetariana. Ela disse que sim e, de um dia para o outro, parei de comer carnes. Isso foi em 2006 e continuo assim até hoje, mesmo depois da minha amiga ter deixado de ser vegana.

No início do meu vegetarianismo, não lembro de ter sentido dificuldades. Lembro que não haviam muitas opções alimentares nos restaurantes nem nos mercados, mas, refletindo sobre isto agora, imagino que eu devesse enxergar desta maneira, porque não possuía um cardápio muito amplo. Não gostava de nenhum grão, além do arroz, não gostava de legumes, só comia batata se estivesse frita, queijo se estivesse na pizza, e por aí vai. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, minha alimentação, de fato, se tornou muito mais nutritiva e saborosa após ter me tornado vegetariana.

Outro ponto positivo foi ter começado a cozinha por conta própria. Desconsiderando algumas provocações do meu pai e de um ou outro parente, minha irmã e minha mãe até me ajudaram. Minha irmã alugava livros de receitas, minha mãe cozinhava para mim, mas com o tempo senti a necessidade de cozinhar meus próprios pratos, equilibrar a minha própria dieta, temperar como achasse melhor. Até porque a minha mãe, acostumada a cozinhar alimentos com carne por quase 40 anos, não deveria se sentir obrigada a mudar todo o seu modus operandis por minha causa. E assim prossigo, experimentando receitas novas e, às vezes, até agradando o paladar dos que se interessam em experimentar meus pratos.

Eu lembro também da revolta, da necessidade de esclarecer a todos sobre o meu ponto de vista. Tive, então, esta fase meio ativista, de publicar no Orkut imagens agressivas sobre o assunto, divulgar o filme "A carne é fraca", mas logo compreendi que eu mesma havia entendido o vegetarianismo na base do diálogo, da pesquisa, e através do exemplo e da convivência. Este me parece um detalhe importante, pois acredito que talvez não teria entendido coisa alguma se tivesse me sentido criticada, agredida ou sufocada por outra pessoa.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Beleza


Reparando bem naquelas mulheres de capa de revista,   naqueles corpos inacreditavelmente saudáveis, naquelas roupas impecáveis, naqueles cabelos perfeitamente alinhados, naqueles rostos iluminados, quase recém nascidos.
Reparando bem, de repente não acho nada disso belo.

De repente é uma beleza engessada, de boneca bibelô.
Possível apenas na utopia de uma página de revista, morta como elas.

Beleza mesmo é ter a blusa amarrotada e os cabelos aos ventos, sem ligar se chove ou se faz sol. É andar descalça e lixar as unhas sem prestar muita atenção. É receber o mundo sem uma gota de maquiagem no rosto, mas com um enorme sorriso.

A beleza está em quem vive sem medo de viver.

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