quarta-feira, 14 de abril de 2010

Hoje

Hoje eu quero acreditar nas várias possibilidades, na simplicidade da vida e na bondade das pessoas.


Hoje eu quero reparar nos defeitos do mundo e encará-los como reparáveis.


Hoje eu quero me configurar para ser aquilo que desejo, viver como e aonde quiser.


Hoje eu quero entender que disponho de todas as ferramentas necessárias para atingir meus objetivos.


Hoje eu quero enxergar além dos meus limites, quero quebrar barreiras, me desviciar da insatisfação.


Hoje eu quero aprender mais sobre aquilo que irá me impulsionar para o alto.


Hoje eu quero apreciar um pouco mais quem sou e virar senhora do meu destino.


Hoje eu quero construir meus alicerces para prosseguir corajosa e positiva amanhã.

Estranhamentos 2

Me permitam um segundo momento de estranhamento deste mundo.




De repente não era mais um nobre ideal, mas uma teima.
De repente, não era mais um objetivo óbvio, mas uma necessidade biológica.
De repente não eram mais senhores e senhoras de idade procurando auxílio, mas pessoas se apegando ao nada.


Na teima de se manterem vivas, fazem de tudo, aturam até mesmo o próprio inferno na Terra.
Vivem vidas que não desejavam viver
São pessoas que não gostariam de ser
Lamentam sonhos não vividos


Não se renovam, não inovam, não enxergam.


Apesar de caminharem a muito tempo
Apesar de terem vivenciado muitas experiências
Prosseguem nas mesmas condições primordiais
Com as mesmas necessidades e virtudes
Com os mesmos impulsos e desejos


Mobilizam, inclusive, outros a colaborarem com esse desejo mesquinha e sem sentido de existir, ocupar espaço no mundo, mais um átomo de grão de areia no Universo entre tantos.

Momentos



Às vezes tento compreender por que com tanta satisfação risco da agenda as atividades já realizadas. Uma a uma concluo, uma a uma elimino, com o mesmo deleite de quando aprendi a simplificar equações matemáticas. Como se dissesse para mim mesma: "pronto, menos uma atividade enfadonha".


Porém, se a vida é feita de momentos e se uma tarefa também o é, seria, então, não apenas o ato de eliminar da agenda uma atividade entediante, mas um detalhe da vida. Então quer dizer que vivo desses momentos desagradáveis para passar para outros e outros o mais depressa possível?


Então compreendo que não podemos simplesmente desejar pular etapas, pois mesmo doloridas, mesmo irritantes, fazem parte da nossa breve estadia na Terra.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

De volta para o passado




Recentemente, pude verificar, com muita tristeza, a linha de pensamento jovem da atualidade a respeito das relações pessoais, ou ao menos de uma parte dos jovens. Após anos rumo à evolução, ou como diria um amigo meu, após anos seguindo numa ordem crescente, constato um regresso de âmbito militar, ditatorial, uma ordem decrescente. Não pretendo me demorar nisso, mas explico a teoria: a humanidade vem evoluindo no decorrer dos anos e na década de 60 e 70 várias questões lançadas anteriormente foram de fato discutidas e colocadas em prática, propostas culturais e ideológicas alternativas, as quais pretenderam modificar a ordem social vigente. Eu não estava presente, é claro, mas faço parte do fruto disso e posso notar, por efeito de comparação e reflexão, que graças aos projetos anteriores temos consciência ambiental, não apoiamos a discriminação, a guerra e a desigualdade. Graças a essas rupturas, aos valores presentes naquela época, é possível vislumbrar outros caminhos para se percorrer nesta vida, caminhos nem sempre reconhecidos.

Não por sua iniciativa, mas por seus ideais, o PJP (Parlamento Jovem Paulista) revelou uma imaturidade assombrosa ao propor um projeto de lei claramente repressor, cujo objetivo é censurar e punir o contato físico entre os jovens, sugerindo obscenidade em manifestações de afeto. São sete artigos muito esclarecedores do projeto de lei 67/2009, assinado por Carolina Loures Thomé, dentre os quais cito:

Artigo 1º - Os/as alunos/as das escolas públicas e particulares ficam proibidos/as de namorar com intimidades, beijos e abraços dentro das dependências escolares.

Artigo 2º - Será considerado namoro íntimo se o casal de adolescentes estiver se beijando ou abraçando ou, ainda, isolado do grupo de colegas.

É difícil acreditar na existência de tal proposta, é doloroso, sobretudo, constatar que tenha partido de uma jovem, mesmo após tantos outros jovens, cujos ideais e cujas lutas seguissem por um caminho completamente diverso.

Se a sexualidade ainda é tabu, se há casos frequentes de doenças sexualmente transmissíveis, se ainda existe constrangimento em relação ao assunto, se o sexo é mistificado, se o corpo, o amor, o desejo e suas manifestações são ainda banalizados, não é por causa da disseminada livre expressão, mas porque a sociedade em si é doentia, repressora e pervertida e porque confunde naturalidade com obscenidade.

Com tantas questões de urgência a serem resolvidas, tais como o sistema de coleta seletiva de lixo praticamente inexistente (se comparada ao sistema tradicional), a violência, a fome, a poluição e a miséria econômica e intelectual, é inconcebível a idéia de pessoas priorizarem a repressão quase Inquisitiva aos jovens. Se estes manifestam desejo e carinho de maneira banalizada e/ou promíscua, é por conta da disseminação de uma mentalidade absolutamente maliciosa, a qual não poderia gerar outro comportamento senão o próprio reflexo disso, de uma falta de instrução emocional e sexual verdadeira, sensível e natural.

É triste, ainda, notar como a massificação da humanidade torna as pessoas tão padronizadas e industrializadas ao ponto de verificar jovens priorizando, acima de tudo, os estudos, o vestibular, a entrada num Ensino Superior e a vida profissional, excluindo as relações pessoais, a sensibilidade, a manutenção emocional, a lucidez, o auto-aprimoramento, enfim.

Não tenho a intenção de ser nostálgica, mesmo porque não acredito verdadeiramente na nostalgia, mas na permanência de aspectos positivos do passado. Tendo isso em mente, prefiro acreditar que as lutas e os debates culturais da década de 60 não foram em vão, que a maioria dos jovens discorda, mesmo intuitivamente, deste projeto de lei. Eu prefiro acreditar na evolução da humanidade, apesar de tendências simpatizantes a valores retrógados de uma época pouco elucidativa. Eu prefiro, enfim, acreditar e apelar ao que há de mais íntimo e sensível nas pessoas, àquela consciência sútil, com a qual somos capazes de acreditar, esperar e lutar por um mundo melhor.


P.S.: Como o PJP é apenas uma simulação da Assembleia Legislativa, seus projetos não entram em vigor.

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