segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Estou sentindo hoje tudo muito simples e ausente de significado. Por um lado, para variar um pouco, é bom se desprender do excesso de análise, este excesso de profundidade que às vezes chega a ser um tormento e nos torna escravos dos pensamentos. Por outro, a vida parece se esvaziar de certa magia.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Tempo para si


A louça para lavar tem sido a minha bênção. É lavando pratos, panelas e talheres que consigo colocar meus pensamentos em ordem, entender meus processos mentais, meus bloqueios. Normalmente, porém, não gostaria de realizar tal tarefa, assim como não gosto de me empenhar noutras atividades domésticas. 

Talvez este seja o mal da sociedade contemporânea: ninguém gosta de gastar muito tempo fazendo algo totalmente para si mesmo. Há uma ansiedade geral em poupar este tempo consigo para gastar com trabalhos para terceiros. Então, muitas vezes, quando você dá aquele gás no escritório, sua própria casa começa a ruir pouco a pouco.


Eu, por exemplo, não gosto de sentir que me prolongo para fazer algo básico, como cozinhar, quando deveria estar fazendo qualquer outra coisa que se reverta em dinheiro. Deste modo, uma tarefa cotidiana trivial se torna enfadonha e parece levar uma eternidade. Por crer que deveria custar menos tempo, tenho a impressão de que requisita um esforço muito maior para ser concluída.

Esqueço, entretanto, que cada tarefa leva o seu determinado tempo para ser concluída e este tempo precisa ser respeitado. E, ironicamente, uma simples atividade doméstica pode ser aquilo que te coloca no eixo de novo, porque te tira das tumultuosas redes sociais, ocupa as mãos e, por exigir atenção, também ocupa a mente, que antes estava presa a pensamentos estressantes, obsessivos, ou largada numa perigosa ociosidade e paranóia.


Tanto quanto um dia no spa, lavar uma louça, no final das contas, pode ser aquilo que faltava para tranquilizar as emoções. Dedicar mais tempo às tarefas domésticas, cuidar do próprio espaço e da própria sujeira é ser responsável por si e ser respeitoso consigo mesmo.


Dica: isso vale para mulheres E homens. Nunca é demais lembrar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016


Todas essas silenciosas partes do meu corpo, que não escuto, mas que ouvem cada uma das coisas que eu digo, impotentes.
Talvez se manifestem em doenças, talvez sejam na verdade poderosas.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Justiça social


Às vezes deixar que as pessoas te ajudem, fazer elas se sentirem úteis, também é um gesto de afeto. 

Uma vez estava no carro com a minha mãe, parada no farol. Veio uma senhora com algumas poucas balas nas mãos querendo vendê-las, mas minha mãe, achando que estava ajudando, recusou as balas para que ela economizasse seu escasso produto, e quis dar dinheiro a ela sem levar nada em troca. A senhora começou a chorar e a pedir para que a minha mãe comprasse as balas: "Não... Compra as balinhas...", insistiu. Neste instante de confusão, o farol abriu e minha mãe saiu com o carro sem dar o dinheiro e nem comprar as balas.


Neste episódio, ficou claro para mim o quanto respeitar o próximo, preservar a dignidade do outro, muitas vezes é um sinal de gentileza muito maior do que a velha e boa "caridade". Ao invés disso, prefiro o conceito de "justiça social", aprendido em anos de colégio judaico. Tratar as pessoas, independente da classe social, da faixa etária, do grau de instrução, da etnia, da aparência e do gênero com o mesmo respeito; auxiliar sem desmerecer, oferecer meios e ferramentas sem rebaixar.

Quando uma pessoa procura te ajudar com sinceridade no coração, aceitar a ajuda de peito aberto e com gratidão muitas vezes é tudo o que elas desejam em retorno. Permitir que a pessoa se sinta de fato útil.

Quando alguém oferecer para pagar a conta, não brigue nem insista, não há necessidade disso. Agradeça e retribua depois. Aceite este gesto de gentileza. Você pode não saber, mas talvez tudo o que aquela pessoa precisava naquele dia era sentir que o dinheiro dela estava sendo valorizado por outros, que ela pode contribuir para o bem-estar alheio.
Isso dignifica, aumenta o senso de importância que alguém tem de si mesmo.


terça-feira, 6 de setembro de 2016



A causa do problema nunca será a solução do problema.


Detox


Estar apaixonada por alguém é como estar sob efeito de drogas. Então, da mesma forma, se desapaixonar é como entrar num processo de desintoxicação. Pausa. Tudo bem que nunca precisei realmente passar por um processo de desintoxicação de drogas, no sentido literal, para saber como é, mas digamos que, para mim, na minha detox de paixão eu tenho os seguintes sintomas:

- Sinto calafrios, como se o fantasma do ser amado estivesse espiando por cima do meu ombro

- Fico enjoada, como se todos os sapos engolidos e todas as palavras e situações constrangedoras; todas as declarações em vão e todas as lembranças quisessem sair goela a fora para depois serem esquecidas
- Suspiros. Muitos suspiros. Suspiros tristes de pesar podem ser ouvidos pela casa vazia. Restinhos de alma que se evaporam pela boca
- O coração aperta, a garganta aperta, a boca seca, os olhos ficam úmidos
- Conversas sem fim com amigos nas redes sociais começam a ocorrer. E encho tanto a paciência deles que preciso selecionar a cada dia para não sobrecarregar um só com tanto drama
- Sinto a vertigem dos desiludidos, de quem um dia se sentiu no topo do universo, mas depois olhou para a dura realidade lá embaixo
- Então, de vez em quando, sinto como se estivesse em queda livre, o estômago dá um pequeno salto e as pernas ficam bambas
- E aí o baque. O corpo fica todo pesado e não quer mais levantar da cama, seguido de um sono infinito e resfriados contínuos
- Vontades súbitas de ir fazer trabalho voluntário na África, trabalhar no Canadá, fazer aliah para Israel e viver num kibutz plantando laranjas ou montar uma ecovila em Granja Viana aparecem aqui e ali
- A mão de mandar mensagens chega a tremer, se é que não vai em frente e faz exatamente isso, me humilhando ainda mais para o amor não correspondido em questão

Este processo pode durar algum tempo e os sintomas podem se intercalar ou ocorrer simultaneamente todos juntos ou apenas alguns combinados. E depois de rastejar por esta espécie de luto do amor, criei uma estratégia que gostaria de compartilhar, mas que ainda está em fase de desenvolvimento. Aqui um passo a passo prático para sair da fossa e recomeçar a viver com dignidade:

- Todos os dias de manhã, antes de qualquer coisa, abra as janelas
- Esqueça o celular em casa e se, por ventura, cair na tentação de stalkear, desligue na hora ou jogue ele longe, cruzcredo. Not today, Satan
- Toda vez que lembrar da pessoa, faça pelo menos 15 segundos de algum exercício físico até esquecer
- Ache uma atividade que te proporcione prazer e conforto. Para mim funciona ouvir música, tenho aqui toda uma playlist motivacional da melhor qualidade engatilhada
- Saia para passear, saia com os amigos, saia com a família, saia com o cachorro
- Permita-se se amar, olhe no espelho com sincero orgulho e perdão
- Faça cursos novos, conheça gente nova
- Psicanálise é sempre uma boa opção
- Respire fundo, quantas vezes for necessário. Tenha paciência consigo mesmo
- Pratique meditação
- Tome um banho quentinho
- Foque no trabalho
- Faça tudo o que puder levando o dobro do tempo que normalmente levaria, prestando muita atenção no que está fazendo
- Adie cada vez mais o motivo do seu vício. Adie aquele pensamento: "vou pensar nisso mais tarde". Adie aquela mensagem: "respondo isso depois". Adie cada vez mais até não sentir nenhuma necessidade disso
- Se dedique a alguma atividade manual, cuide do seu jardim ou cultive um jardim
- Tente lembrar sempre que puder do quanto é importante passar por esta fase e do quanto é importante se desvincular desta pessoa
- Perdoe também, se esforce para encontrar o perdão dentro de si, liberte-se



sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Das Incoerências da Vida


Preciso de equipamentos para trabalhar e trabalhar para ter equipamentos. Nos sites de vagas de emprego, exigem que eu, desempregada e sem dinheiro, pague para poder ter acesso às empresas e não que às empresas paguem para ter acesso a mim. Quando me entrevistam, perguntam logo se já tenho empresa aberta, porque não querem arcar com chatíssimos direitos trabalhistas que me ajudariam a fazer o serviço, tais como vale transporte, vale alimentação, férias pagas, horas fixas etc. Não. Querem que eu pague para trabalhar com um sorriso no rosto.
Se eu estivesse trabalhando, estariam me sobrecarregando com a função de 10 pessoas e pagando por uma só. Tem que ter experiência para trabalhar e trabalhar para ter experiência. Sou muito qualificada para determinadas vagas; sou pouco qualificada para outras; sou muito jovem para certas coisas; sou muito velha para outras. Enquanto isso o tempo passa.
Falam para eu abrir o meu próprio negócio, mas preciso de dinheiro para empreender e empreender para ter dinheiro. Quero ter uma conta no banco para colocar o dinheiro, mas precisa de dinheiro para manter uma conta no banco. E com esta idade, minha mãe já tinha a primeira filha, casa, carro e metade da carteira de trabalho assinada.
Numa dinâmica em grupo, não pode falar muito de si, para não parecer arrogante, mas também não pode ficar sem falar, senão parece uma ninguém. Não pode sair organizando, porque querem pau mandado, mas não pode só ficar obedecendo, porque querem gente com iniciativa. E cuidado para não dar uma de engraçadona, porque não é profissional, mas esta cara séria é tão antipática, né?
Quero estudar para ter emprego, mas preciso de emprego para estudar. Queria fazer intercâmbio, mas se fizer é capaz de perder o bonde e quando voltar não ter mais vaga no mercado. Resolvo focar nos projetos pessoais, mas me sinto culpada por não estar mandando currículos e quando mando currículos, lembro dos projetos parados. Enquanto isso tem criança de 12 anos ganhando Nobel da Paz e descobrindo a cura do câncer.
Tantas realidades inconciliáveis numa lógica incoerente que enxerga as pessoas com data de validade e com uma rígida agenda pré-determinada, ao mesmo tempo em que romantiza os aventureiros. Muitas vezes parece que o tempo já passou, mas que o momento nunca chega. Parece que a vida não acontece, enquanto tudo muda ao redor. Tudo menos eu. Eu não aconteço, eu não sei quem sou, não sei o que faço, não sei o que quero, não sei o que sinto. Já nem opino mais. É inútil. Nada parece se transformar, nada realmente necessário. Estamos andando em círculos e não chegamos a lugar algum. Qual é o meu valor, qual é o valor do outro? Para que tudo isso?

sábado, 13 de agosto de 2016



Ando pensando naqueles tempos em que tudo era mais difícil. Jovens apaixonados em tempos de guerra, ou mesmo em tempos de paz, ficavam meses sem se ver, precisavam se comunicar por cartas e olhe lá. Quão ardentes não eram essas paixões, esses amores impossíveis?
Hoje com tudo ao alcance de um clique, ninguém mais se dá ao trabalho, ninguém valoriza. Vivemos mesmo em tempos de amores líquidos, tudo descartável. E as pessoas têm tempo, hein? Ô se tem...
Tempo de sobra para não ver amigos, não falar com a família, dispensar aquele abraço, postergar aquele beijo... Não aceito isso, não existe futuro, só presente. Não tenho tempo a perder. Sou faminta, não sei ser requentada em banho maria, já entro na panela fervente e viro logo vapor.

Sofri uma queimadura no peito, bem onde já estava doendo. Estava doendo tanto que pegou fogo quando entrou em contato com a manta. Estava doendo tanto que sequer consegui perceber que a dor era externa, não interna, tão imersa estava neste sentimento. O que doía por dentro passou a doer mais e foi para fora. A dor deste coração que não escolhe, apenas ama sem querer e não recebe amor de volta. E dói, se contorce, grita, sangra, agoniza, queima.

domingo, 31 de julho de 2016

Mudar


Eu sou uma pessoa bem diferente do que eu pensava que fosse. Quem eu sou fugiu completamente do meu controle. E estou tentando lidar com erros inéditos e me desapegar da necessidade constante de agradar as pessoas, custe o que custar. Eu sou quem eu sou, se alguém tem algum problema com isso, não é da minha conta.


Talvez seja uma surpresa para as pessoas, mas eu não sou aquela imagem estática que eu mesma achei ser durante tanto tempo. Um ideal fantasioso de mim. Eu mudo o tempo inteiro, influenciada pelas situações, pelas pessoas, pelos meus pensamentos e minhas emoções. Eu simplesmente não posso mais tentar corresponder a este modelo plano e falso, não posso continuar lutando contra a natureza e me martirizando caso não interprete bem este papel para mim mesma e para os outros.

A verdade é que eu tenho medo de ser rejeitada, abandonada e, por todos os lados, vejo esta expectativa silenciosa, esta análise e também um pouco de julgamento, pelo qual as pessoas tentam decidir se vale a pena continuar ao meu lado ou não. Entretanto, no fundo tudo pode não passar de paranoia, no fundo ninguém presta tanta atenção assim, eu acho.

Deste modo, vou continuar vivendo e abraçando as minhas mudanças da melhor forma possível. Vou continuar observando meus pensamentos e minhas emoções, porque sei o quanto isso é importante para se viver feliz, mas não por causa de outras pessoas.

sábado, 30 de julho de 2016

Amor imprestável


Um amor inútil e uma saudade pentelha.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Superação...


... Exige uma concentração absoluta e fazer cada coisa exageradamente devagar.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Sobre Julgamento e Autoengano



Tirar sarro de alguém feio não te faz mais bonito. Rir de uma pessoa obtusa não te faz mais inteligente. Rebaixar e esnobar os outros não te faz mais ilustre e importante. 
A verdadeira nobreza está em ser gentil com o próximo, nutrir sentimentos de empatia e carinho.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Exclusividade


Nenhum relacionamento é exclusivo. Duas pessoas ainda precisam dar atenção a outras coisas e outras pessoas mesmo dentro de um "relacionamento a dois". 
Ninguém vive numa ilha deserta.
Chegou um ponto em que percebo, um tanto estarrecida, que não posso proteger ninguém, talvez nem eu mesma. E o que sobra? Viver, eu acho, mas sabendo que a vida não tem rede de proteção. O controle é uma ilusão parcialmente abandonada. O paradoxal medo da morte. O que resta? O que importa? Eu sou a minha única sina real, mas não vivo numa ilha, não posso nem fingir que vivo. Estamos o tempo inteiro interferindo na vida dos outros e os outros na nossa. Talvez eu seja mimada e egoísta, mas por alguma razão, dentro de outro contexto, minhas faltas parecem menos criminosas. Preciso ser mais justa, acho. Comigo e com os outros.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Desfazeres

Eu me faço chuva
Me faço sem limites e sem margens no espaço e no tempo

Me faço lenda
Tão distante de todos


Um dia senti meu coração despencar,

Como se por um momento ficasse suspenso no ar em queda livre
Já senti meu coração alfinetar a cada batida e perdi o fôlego
Numa busca incessante por amor

Não mais


Hoje me faço livre, me faço fogo e ardo junto com os astros

Perpétuo
Sem nome

Eu não sou mais a resistência

Não sou mais
Não sou

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Amigos Virtuais


Quem reclama ou duvida de amizade virtual, com certeza deve ter um ótimo meio de transporte e bastante hora vaga.
Não?

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Quem criminalizou a vida?


Não sei quem criminalizou a inocência
A timidez
A tristeza
E a introspecção.

Nem quem fez o desfavor de criminalizar o prazer
A risada solta
O abraço apertado
E o sexo.

Também queria saber quem criminalizou a sinceridade
A gordura localizada
As declarações piegas de amor
E a liberdade.

Não sei quem é, mas...
Ô. Sujeito. Amargo.
Sujeito estranho.
Reprimido.

Vê se toma jeito!
Trate de descriminalizar!

Tudo isso é natural e mal não faz.
Deixem-nos viver nossas vidinhas em paz.

Céu


Me encontro quando olho para o céu.
Vejo o mapa de mim mesma nas nuvens.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Pequeno ensaio sobre a fetichização do corpo feminino

A hipersexualização das mulheres na mídia contribui para um pensamento objetificante do corpo feminino e para a naturalização da violência contra a mesma. O corpo deixa de pertencer a ela e passa a pertencer e servir ao entretenimento do homem, somente. 

Toda vez em que a mulher quiser se apropriar do próprio corpo, estará cometendo um crime e será julgada, condenada, hostilizada e censurada. 

A mulher não pode amamentar um filho quando e onde bem entender, pois estará ferindo os "bons costumes", não pode ficar sem camisa ou soutien em público, pois estará cometendo "atentado ao pudor", mas pode sair em revista  e filme pornográfico, pode desfilar nua no carnaval, pode tirar as roupas todas em clubes masculinos, pode aparecer inteira nua em filmes/séries/HQs a qualquer momento, desde que esteja sempre divertindo o homem. 

Hora de largar a hipocrisia de lado e devolver à mulher o direito ao próprio corpo, o direito de se vestir como quiser sem ser importunada, de não precisar usar maquiagem, nem salto alto, nem soutien, nem cabelos longos, nem se mutilar e maltratar para ser aceita; de não precisar ficar nua/seminua em capa de revista toda vez que for falar sobre suas conquistas pessoais, de não precisar dar satisfação à ninguém sobre o que come ou deixa de comer, o direito de ocupar espaços públicos sem que toquem/olhem/assediem seus corpos maliciosamente.

A nudez em si não é um problema, não é "pecado", "coisa impura", é o estado natural do ser humano e ninguém deveria se aproveitar disso para oprimir, violentar, humilhar, assediar outra pessoa. O problema da nudez é o que fazem com ela. Problema é a quem ela serve, em qual contexto e por qual motivação ela ocorre e o que ela gera numa sociedade embasada na exploração feminina.

Já passou da hora de reverem o modo como retratam mulheres em comparação ao modo como retratam homens na mídia. Enquanto este e outros assuntos referentes à dominação masculina e submissão feminina não forem levados a sério, a liberdade e a segurança das mulheres estará sempre em jogo.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Encarando a Caixa

Ontem me coloquei numa posição de vulnerabilidade até então inédita para mim. Estava diante de uma turma grande de pessoas, num espaço grande, sendo observada atentamente por todos e por pessoas cuja opinião sobre mim eu prezo. Ensinei-as algo que eu também tenho bastante dificuldade em executar, suei, hesitei, fraquejei, mas ali estava eu, independente disso, determinada a passar o máximo de informações possível. 
Foi como abrir a caixa de Pandora da minha mente, onde ficam guardadas todas as minhas inseguranças. Vulnerável, centro de todos aqueles olhares, meu cérebro começou a trabalhar alucinado tentando apontar e aumentar todos os mínimos detalhes que poderiam ser motivo para alarme, como se quisesse procurar sinais de perigo eminente: um desajustado alarme de incêndio que ressoa alto e estridente, sem haver, no entanto, nenhum sinal de fumaça.
Meu corpo estava pronto para a retirada, mas a minha mente estava focada em ir até o fim. Isso causou um tremendo rebuliço interno, fez os monstros todos, que se alimentam das minhas fraquezas, ficarem muito confusos e saírem trombando uns nos outros de dentro da famigerada caixa.
Ao término da pequena e um pouco desajeitada aula, não conseguia parar de sorrir de satisfação por ter conseguido passar por isso. Meus monstros estavam todos caídos, cansados, derrotados. Tentaram mais uma investida pouco antes de dormir, mas desistiram exaustos e voltaram para dentro da caixa.
Acordei diferente. Sinto como se algumas situações no passado que foram fontes de aborrecimento e sofrimento, hoje parecessem muitíssimo mais simples. Tenho a impressão de que conseguirei lidar melhor com um evento semelhante no futuro ao ampliar gradativamente a minha zona de conforto. 
Ensinar algo a outra pessoa também é, afinal, uma forma de autoconhecimento. 

Fique e Descubra


Eu poderia falar muitas coisas interessantes ao meu respeito, mas qual seria a graça!? É melhor você ficar para descobrir.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Um brinde aos amigos...


... Que colorem a minha vida e povoam a minha mente com sonhos e o meu coração com amor.




terça-feira, 5 de abril de 2016

Ansiedade

A ansiedade, percebo agora, têm sido uma leal companheira ao longo destes anos. Em alguns períodos ela cresce, em outros ela parece se perder no meio de rotinas atribuladas. Só quando me desobrigo de atividades contínuas consigo perceber sua presença, ainda aqui, fazendo a minha cabeça voar de pensamento em pensamento, perder horas e horas numa dispersão mental sem fim pelas redes sociais.

A ansiedade, percebo agora mais claramente, tem me tirado energia e talento. Por conta disso, eu não consigo mais focar nas minhas tarefas e terminá-las. Se antes eu conseguia fazer coisas incríveis, hoje pequenas realizações como ir ao banco abrir uma conta se tornam motivo de comemoração. Coisas pequenas como decorar uma letra de música, uma coreografia, algumas palavras em outro idioma, fazer um desenho bem feito, ler ou escrever um texto até o final, hoje exigem de mim um esforço enorme. Acho que manter o foco numa coisa só e se empenhar de verdade nesta coisa é a chave real do sucesso e do aprimoramento. Entretanto, anos de mente dispersa foram capazes de minar minhas habilidades, fazer falhar constantemente a minha memória, dificultar processos mentais e impedir a realização de tarefas rotineiras básicas.


Eu descobri agora a fonte da minha angústia e da minha frustração e este é o primeiro passo no caminho para a retomada da minha vida. Não garanto excluir totalmente esta sensação, mas vou procurar, com certeza, prestar mais atenção a isso, fazer exercícios para descondicionamento comportamental, criar hábitos mais saudáveis. Pouco a pouco, com muita paciência e carinho, tarefa a tarefa, respiro a respiro.

sábado, 2 de abril de 2016

Feminilidade Amordaçante


E muita gente não entende mulheres em condições de risco e vulnerabilidade que muitas vezes não conseguem se separar do parceiro, seja por ameaça, seja por ter sido negado a elas estudo e condições para se sustentarem. É simples entender como uma mulher se vê coagida a fazer sexo sem camisinha, por exemplo. Faça o seguinte: observe atentamente o silenciamento sistemático de mulheres na sociedade. Observe atentamente como a sua MÃE, sua tia, sua avó, sua irmã, sua prima, sua amiga são tratadas dentro de casa, no trabalho, na escola.

As mulheres servem aos homens sempre e eu já notei que, na maioria das vezes, as mulheres são excluídas do convívio social, são ridicularizadas toda vez que abrem a boca para emitir opinião, são refutadas a todo o momento. Eu vejo isso todo o dia dentro da minha casa. Vejo homens culpando mulheres por tudo e por qualquer motivo, mulheres boicotadas, deprimidas, pressionadas. Eu vejo isso no meu trabalho, mulheres sendo jogadas para escanteio, tendo créditos roubados, reprimidas, interrompidas. Eu vi isso na minha escola, na minha faculdade, mulheres sendo corrigidas a todo o momento por homens, mulheres sendo subestimadas, ignoradas, exploradas, desencorajadas. Eu vejo isso quando ligo a TV, em novelas, em filmes, em séries, em notícias, mulheres sendo espancadas, sequestradas, estupradas, torturadas, ameaçadas, perseguidas, difamadas, censuradas. 


Basta ligar no Investigação Discovery para ter uma amostra de tudo isso, do que é feminicídio e de como ele é retratado como se não fosse, como se fosse crime "passional", como se fosse coisa de gente "desequilibrada", como se as mulheres fossem "histéricas" e "mentirosas". O que é irônico, já que é um canal televisivo que se alimenta da violência sistemática contra a mulher, tão frequente que consegue sustentar este tipo de programa a mais de 20 anos, sempre com episódios inéditos.


E depois ainda não sabem como uma mulher consegue se ver obrigada de alguma forma a fazer as vontades do homem, inclusive de não usar camisinha. Como muitas vezes as mulheres são ainda condicionadas a ACHAR que QUEREM uma coisa. Como as mulheres tem MEDO: do abandono, da rejeição, da violência, da exclusão, da MORTE. Isso faz parte da socialização da mulher, ceder, ceder e ceder. Morrer morrer e morrer. Quem não sabe disso não observou o suficiente ou finge que não vê.



quarta-feira, 30 de março de 2016

Mude o Meu Look?



Precisamos problematizar os programas televisivos voltados à "transformação de mulheres". Vira e mexe eu assisto, porque gosto de ver as combinações de roupas, mas a premissa destes programas é muito agressiva. Expõem as mulheres ao ridículo, fazem de tudo para esmigalhar a autoestima delas e, como se não bastasse, as levam a acreditar que a vida, a felicidade e a carreira dependem totalmente da aparência.

Hoje assisti uma mulher confiante, que se amava, poderosa, com os cabelos cacheados maravilhosos, cheia de personalidade, ser pouco a pouco diminuída e massacrada por uma série de críticas vazias e jocosas. Fizeram ela passar por um "experimento", no qual ela foi exercer o seu trabalho dos sonhos vestida ao seu modo, para no final pegarem a "opinião" do chefe e ele dizer que ela era "promissora", mas a aparência dela seria "um problema".

No final sobrou uma mulher triste, padronizada, de cabelos lisos e loiros e olhos apagados. Tive certeza de que ela não gostou, mas foi obrigada a falar que sim.

Até quando iremos tolerar este tipo de tratamento, pelo qual somente mulheres parecem precisar passar? Por que escolhem mulheres perfeitamente felizes com elas próprias e depois as destroem publicamente, enchem a cabeça delas com inseguranças, alimentam complexos? Até quando?

sexta-feira, 18 de março de 2016

Descompasso

O miado do gato me arranca do sono e, antes mesmo de abrir os olhos pesados, tateio o colchão freneticamente em busca do meu celular, que se tornou quase uma extensão do meu braço.
Me sinto desnorteada, como se metade de mim quisesse viver e amar ardentemente e metade estivesse inerte, pronta para entrar em coma. Com o corpo pesado e a alma leve, entro numa dicotomia paralisante. A vontade de amar e viver é igual a vontade de me apagar e cancelar o dia.
Aperto os botões do celular e a luz ofusca meus olhos semicerrados. As primeiras notícias do dia são como cafeína, sem elas permeando a minha mente não tenho o combustível necessário sequer para me deslocar ao banheiro.
Levanto e abro a porta. O gato me recebe caloroso, mia incompreendido e se enrosca nas minhas pernas. Retribuo com um afago e prossigo. Embora esteja caminhando ainda sonolenta, já quero amar, beijar, abraçar o mundo todo, mas meu corpo se recusa a obedecer prontamente e deseja apenas deitar e dormir.

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