segunda-feira, 20 de dezembro de 2010


Agora eu entendo. Estou apenas buscando as minhas respostas.




Soja Fermentada e o Anticristo



Uma vez fui comer num restaurante da Liberdade, e decidi pedir um temaki de soja fermentada. A dona do estabelecimento, após entreouvir nossa conversa com a garçonete, veio afoita e interrompeu, convicta: não peça!

Fiquei assustada com a súbita intervenção. Ela disse, em tom muito sério, que nem os próprios filhos japoneses pediam, que não é para todos os paladares. A soja fermentada devia ser o horror absoluto! Marginalizada até no próprio país! Um escândalo!

Mas não pude deixar de sentir, também, aquela pontinha de ressentimento. Ela estava claramente subestimando o meu paladar, o meu gosto, a minha capacidade de gostar do diferente. Me senti quase desafiada, num ímpeto irracional de pedir o tal temaki de soja fermentada e provar a ela que estava enganada!

Mas bastou ela dizer que a comida em questão cheirava mal e toda a minha coragem foi por água a baixo. Comida que cheira mal, nem se tivesse o gosto do melhor néctar divino.

Passado este acontecimento, de repente me vi na mesma situação, só que ao contrário.

Quando me perguntam sobre o filme "O Anticristo", ou sequer escuto alguém citar o filme, com a mesma urgência e gravidade da dona do restaurante, alerto: não assista!

É sério. Muito sério. Não assista este filme. E não se sinta tentado a assistir. Mesmo que, neste momento, eu esteja atiçando o seu ego, ou algo assim: não assista!

Mesmo que o seu amiguinho descolado e destemido indicar: não assista!

Mesmo que algum cinéfilo dizer que há nele uma profundidade incompreensível aos reles mortais: não assista!

Mesmo se o seu coleguinha satânico e metido a intelectual fervorosamente defendê-lo: não assista!

Mesmo que disserem, algum dia, quando o diretor estiver morto e, por isso, começar a ser considerado absolutamente genial: não assista!

E agora vou usar um pouco de psicologia reversa para te convencer: ah, tanto faz, assiste se quiser.

E agora eu volto a tiranizar geral: NÃO ASSISTA!

Se eu pudesse definir este filme em uma só palavra seria: desnecessário.

Se eu pudesse passar uma última mensagem para a humanidade seria esta: não assista "O Anticristo"!

Se só houvesse uma chance de mandar para o espaço numa nave espacial aquilo que não presta mais para a Terra, eu colocaria todas as cópias existentes deste filme nela. E todas carbonizadas, de preferência, para que nem os extraterrestres sofram com isso.

Escute bem, porque quem avisa amigo é: "O Anticristo" é como soja fermentada, com a diferença de que não é para NENHUM paladar.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Oração do Rock


Elvis Presley que estais no céu;
Muito escutado seja Bill Haley;
Venha a nós o Chuck Berry;
Seja feito barulho à vontade;
Assim como Hendrix, Sex Pistols e Rollings Stones.
Rock and roll que a cada dia nos melhora;
Escutai sempre Clapton e Neil Young;
Assim como Pink Floyd e David Bowie, Muddy Waters e The Monkees.
E não deixeis cair o volume do som 102,1 de estação.
Mas livrai-nos do Pagode e Axé.
Amém!

Sorrisos estranhos


Eu lembro quando fiz um estranho sorrir. Usava um nariz de palhaço daqueles que encaixam. E sorria. Sorria para o estranho, convidando-o a sorrir também.

E ele, o estranho, me devolveu o sorriso, num misto de timidez com cumplicidade. E alívio.


A perda

Se eu pudesse definir perda em uma palavra seria "vazio". Porque quando perdemos alguém, é como se a nossa vida se esvaziasse de sentido. Planos, sonhos, ocupações, perdem um pouco da razão de ser, não como se deixassem de ter utilidade objetiva, mas como se deixassem de ter aquele toque especial que nos impulsiona a concretizar com mais convicção, tranquilidade e felicidade.


Não me refiro, entretanto, a perdas maiores e irremediáveis, daquelas pelas quais sentimos vontade de arrancar o coração do peito tamanha a dor. Não. Me refiro a perdas mais inusitadas, nostalgias do que não se viveu ou deixou de viver, como se "de repente, não mais que de repente [...] fizesse* do amigo próximo, o distante...". Precisamente isso. Uma perda fruto de separação.


A nossa vida, de compartilhada, vira só nossa. E isso assusta, como se de uma hora para outra caminhassemos sozinhos por um trajeto, não necessariamente obscuro ou perigoso, mas sem uma mão segurando a nossa.


A realidade se torna um pouco mais real e por isso, talvez, mais difícil, porque se preenche por uma repentina apatia. Como em certa música que eu ouvi, é uma "ausência fazendo silêncio em todo lugar". Um silêncio nublado e quase agudo.


Isso me faz pensar se por acaso sou dependente das pessoas a esse ponto. Se a minha vida é tão errada que sem os outros perde o significado, como se perdendo o outro me perdesse um pouco também.




Acho que a felicidade, de fato, só é real quando compartilhada.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A morte de cada dia





"Meu trabalho mais que forçado
Morrendo comigo na mão"

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pessoas simples


Eu me assustei quando olhei para o seu rosto novamente. Fazia tanto tempo, já havia me esquecido de como é. E imediatamente fui tomada por um pressentimento de mundo incorrigível, um calafrio... Recuei abalada. E olhei um pouco mais de longe. Notei como tudo isso é bobagem, como, de fato, tudo pode ser muito mais simples do que aparenta.

 

A vida é simples, mas não por isso menos dolorosa. Há certo... Como posso dizer? Há certo... Temor na simplicidade - digo isso temendo, até, a palavra temor -. Estremeço imaginando como ser simples pode também significar ser duro em sua tranquilidade, monossilábico em sua praticidade. Ser simples é andar sempre em frente, é contornar, indiferente, os problemas.


Ser simples, para mim, é também ser insensível. E por ser complexa como sou, acho que não sei lidar com isso sem me assustar. As pessoas simples me deixam desconfortável, elas me escapam, nunca entendo suas impressões de mundo, são imprevisíveis.

 

Às vezes imagino se as pessoas simples não são, na verdade, muito complexas para corresponderem a isso através de seus atos. Talvez vivam numa imensidão compreendida apenas por elas e mais ninguém, por isso se tornam um mistério absoluto. Já conheceram Lord Henry Wotton, de "O Retrato de Dorian Gray"? Ele é uma pessoa simples, mas verborrágica.

 

Não gosto quando pessoas simples se fazem de complexas, por outro lado. Parecem indiferentes, mas com tal acidez... Decidiram ignorar odiando, ao invés de ignorar desistindo. Desistindo, por antecedência, de explicar porque ignoram, porque seguem em frente e porque abandonam com tanta facilidade.

 

Acho que hoje simplesmente estou assustada.

 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Você Rafael



Assim como a minha eu idosa, você, Rafael, é tão você. Não é mais tão aquele que me acompanha, o Niquito. É outra pessoa, tão cheia de histórias e verdades, tão para si, tão você. Tão você sem mim.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Alimentar-se



O ato de se alimentar é tão íntimo. Às vezes mais íntimo que o sono, mais íntimo que o beijo. Quando você se alimenta com outra pessoa, não está apenas se socializando, está compartilhando de um momento sagrado. Não seria, pois, um ato de fragilidade, aquele do qual depende a sua vida. E é, entre os outros animais, um ato todo secreto. Lobos não jantam juntos, leões não compartilham de um bom almoço, é cada um virado para sua própria comida. Na luta pela sobrevivência, não se pode dar ao luxo. Só nós, humanos, que ainda baixamos a guarda de tal forma.

Para mim é íntimo demais estar ao lado de quem come, nutre o corpo, coloca boca a dentro seu alimento tão precioso, mas tão subestimado...

Eu idosa


Eu sou uma outra eu quando penso numa eu idosa. E o estranho é que essa eu idosa exigiria respeito como qualquer outra idosa. 

Acho engraçado imaginar um encontro da minha eu idosa com a minha eu de agora. Cumprimentaria daquele meu modo doce e distante de quem compreende a existência de certo respeito hierárquico? Cederia meu lugar? Ajudaria a sentar e a andar repousando seu (meu?) braço no meu? Falaria de maneira baixa e lenta? 

Não quero dizer que seja uma outra eu totalmente distinta. É apenas uma eu distante. Uma eu muito ela, cheia de peculiaridades e experiências, mas também, para a eu de agora, uma eu cheia de estereótipos. Só porque sou eu mais velha, não significa que é outra. Cumprimentaria como cumprimento a mim mesma. Não cederia meu lugar, procuraria outro para ela. Não daria o braço porque a (me?) ajudo, mas porque nos ajudamos. Falaria como converso comigo mesma. 

Como tudo isso ocorre, entretanto, já é outra questão, quase diretamente proporcional ao modo como me trato. Se eu gosto ou não de mim mesma, isso iria se refletir na minha interação com a minha eu idosa e vice-versa. Acho que se eu encontrasse a minha eu idosa, ouviria-a com toda a atenção e respeito, mas muito mais que isso, com toda a cumplicidade. Seria um encontro muito emocionante, sem dúvidas... Talvez o encontro mais aguardado de todos os tempos. O encontro comigo mesma.

terça-feira, 9 de novembro de 2010



Quando temos que pedir licença para o mundo para sermos e existirmos a nossa maneira...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Quando os raios de sol se agarram às sombras





Agora a pouco o mundo estava sépia. Eram sete e meia da noite, e o mundo adquiria uma cor rosada em meio ao céu cinza escuro, carregado de chuva. E aqueles raios rosados atingiam e se agarravam aos seus anteparos como se lutassem para que o sol não se posse. Nunca vi coisa igual. A noite empurrando o dia para dominar soberana o mundo, deixando-o escuro e quieto. Mas amanhã surgirá o sol novamente, imponente e quente, para mais um dia de primavera.

sábado, 6 de novembro de 2010

O Mundo Mágico de Paula - Baladas

Me surpreende muito como na festinha aí do lado está tocando precisamente tudo que se tocava a 9 anos atrás, quando eu estava na 4ª série, ou a 20 anos atrás, 40 anos...

"Para bailar la bamba", "Macarena", "Twist and Shout", "It's raining man" e outras pérolas fazem parte do repertório. 

E eu aqui me desespero e não consigo deixar de me perguntar por que diabos isso AINDA toca nas festas!?
Nessa cara de pau horrorosa... Como pode? Pagar um animador de festas para isso???

Pois bem, se fosse eu... Melhor, se fosse no Mundo Mágico de Paula....! Ah, minha playlist seria diferente...

Começaria com The Killers, então tocaria Mika, Amy Winehouse, Beatles, Muse, Portishead, Black Eyed Peas, algumas da P!nk...

E festa seria lugar para dançar e se divertir! Nada dessa história de querer pegar todas/todos e ou ficar bêbado até cair!

Aliás, não teria bebida alcoólica de nenhum tipo. E a festa contaria com vários jogos de tabuleiro, jogos de video game e afins espalhados em salas.

Também contaria com um potente isolamento acústico que isolaria uma sala da outra, possibilitando, até, salas estilo lounge, nas quais as pessoas pudessem apenas conversar com calma. E outras salas de karaokê!!! Para grupos maiores e para grupos menores ou abertas a todos!

E teria palco para banda ao vivo e outras atrações artísticas, lógico!

Seria incrível.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Você sabe guardar um segredo?


Sinto uma simpatia estranha por quem faz esse tipo de pergunta.

Talvez exatamente pela raridade dela.

Hoje é tão raro as pessoas confiarem umas nas outras...

Poluição nossa de cada dia


Antes de inspirar profundamente, farejo o ar, procurando o direção para a qual apontar o nariz.


A essência de uma rosa


Ganhei três rosas de aniversário. Digo, quatro: uma delas não fazia parte do grupo, mas era tão meiga em suas pétalas feitas de tecido. E tinha uma trufa de chocolate em cima.

Mas o que fazer com as rosas? Eu quase não as vejo, são quase mito. Quando vejo, estão conservadas numa imagem de computador ou num calendário de parede. Não há, porém, imagem que as contenham. As rosas são robustas, mas são distantes. É preciso que se reinventem em diversas imagens, ângulos, cores, estilos, personalização, porque as rosas, mesmo retratadas, estão ausentes. Eu sei disso, tentei, mas na minha foto eram rosas como outras quaisquer. A essência de uma rosa é incapturável. Elas são místicas, quase como soubessem de algo insuspeito e não quisessem revelar.

Então as observei, com o encanto de quem não compreende. As rosas são exigentes, mas não são duras. Elas, sim, entendem os nossos limites, compreendem nossa incapacidade de admitir a perfeição, mesmo diante de nós, ao nosso alcance. Mesmo as rosas sendo intocáveis e condescendentes como são, toquei-as, humilde, senti suas pétalas sedosas. Aproximei-as de mim para sentir seu aroma suave, sensual, agreste, adocicado. Contemplei-as eternamente, tentando a todo custo retê-las vivas em minha memória, da maneira perfeita como existiam naquele momento, naquele quarto abafado.

Não consegui, no entanto, decifrá-las. Não consegui torná-las eternas. Elas estavam distantes e eram únicas. E eu não consegui compreendê-las. Suas essências não se revelaram a mim.

Acho que cometi um erro.

Já tive medo de amar uma rosa.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Apatia



Hoje é um daqueles dias nos quais não se vive... espera.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Lullaby - Creed

Hush my love now don't you cry
Everything will be all right
Close your eyes and drift in dream
Rest in peaceful sleep

If there's one thing I hope I showed you
If there's one thing I hope I showed you
Hope I showed you

Just give love to all
Just give love to all
Just give love to all

Oh my love...in my arms tight
Every day you give me life
As I drift off to your world
Will rest in peaceful sleep

I know there's one thing that you showed me
That you showed me

Just give love to all
Let's give love to all

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

20 primaveras


E eu que nunca notei a primavera hoje a percebo como quase uma extensão de mim mesma. 
Incrível como passei 20 primaveras sem realmente notá-las. A primavera é justamente a estação indefinida... Como eu... Como eu, após viver 20 delas...

E quando olho no espelho, tento procurar o que há de tão 20 em mim, tento enxergar do que é feito meu rosto e se me orgulho dele. Se tive, afinal, uma vida feliz até hoje, se estou realizada... 

E por que 20 anos é uma idade tão decisiva? Parece que, de repente, precisamos muito fazer algo importante nesta idade, como, sei lá, descobrir a cura do câncer, abrir uma micro empresa que um dia será tão relevante quanto a Apple, colocar o pézinho na estrada rumo uma carreira incomparável de artista.

E é com 20 anos que entramos na próxima casa decimal, pela primeira vez. Assustador. Depois dos vinte, o tempo passa voando, já me disseram. E já me disseram também, se não mudou até os 20, não muda nunca mais. 

E minha mãe que teve a primeira filha com 25? E pensar que isso está a apenas 5 anos de diferença de mim... Impossível! Em cinco anos não é possível atingir um grau de maturidade tão superior ao que eu conquistei até agora, ao ponto de cuidar de um filho.

Há algo de amedrontador nos 20, afinal... Algo de inalterável, como se não houvesse mais volta nem destino.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

19 de Outubro



Dia 19 de Outubro é o dia no qual o Shopping Higienópolis sempre inaugura a decoração natalina.
Dia 19 de Outubro é dia nublado e frio, que se salva por um sol a tarde, talvez.
Dia 19 de Outubro é sempre um dia esquecido por deus.
Dia 19 de Outubro é dia de dormir a tarde e não fazer nada a noite.
Dia 19 de Outubro é o dia no qual o mundo te encara sem te reconhecer.
Dia 19 de Outubro é dia de olhar para a janela e ver a lua.
Dia 19 de Outubro é dia de comer delivery e ver desenho na TV.
Dia 19 de Outubro é dia de silêncio.
Dia 19 de Outubro é dia de solidão.
Dia 19 de Outubro é também o dia de uma vida inteira.
Dia 19 de Outubro é o dia para se pular para o fim de ano.
Dia 19 de Outubro é dia para salvar, ser salvo e se salvar.
Dia 19 de Outubro é dia para se chorar.
Dia 19 de Outubro é dia para rir.
Dia 19 de Outubro é dia promessa.
Dia 19 de Outubro é dia de final feliz.
Dia 19 de Outubro é o dia para se nascer.
E renascer.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Paciência - Lenine


Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não...

Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida é tão rara
A vida é tão rara...

A vida é tão rara...






Gosto muito dele... Ele me faz sorrir pelo menos uma vez por dia... E isso já é muito mais do que muita gente...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Eu diversa



Perto dela, eu tenho 100 anos a mais... Sou uma velha ressentida, de cabelos brancos que se desmancham em bochechas caídas, de olhos apagados, mas teimosos, mãos enrugadas, imóveis sobre as pernas rígidas, lábios crispados que trancam as mais amargas impressões e coração envolto em sombras.

Perto deles tenho a testa enrugada e preocupada de quem acumula 4 décadas. Tenho a boca tagarela, queixosa e burra, os olhos distraídos e fugitivos, os pés fincados ao chão, os ombros caídos, vencidos, o coração aflito e a cabeça tombada, sou tanto tudo isso que também tenho 13 anos e já sinto um mundo em minhas costas.

Perto delas, regrido a tempos de curiosa adolescência. Tenho olhos brilhantes, maliciosos e ingênuos, boca risonha, mente de inesgotável imaginação, coração ansioso por viver o desconhecido e costas nostálgicas.

Perto dele retorno à infância, ao coração leve, ao sorriso brincalhão e meigo, aos braços necessitados de abraços, para dar e receber, aos olhos brilhantes, alegres, de sábia ingenuidade, aos pés saltitantes, às mãos abertas e elevadas... 
E também anuncio a chegada às 30 primaveras. Tudo posso, tudo quero... Sou dotada de todas as curvas e toda inteligência, toda destreza e delicadeza, tenho boca apaixonada, braços e colos  maternos, peito arfante e arqueado, pés bailarinos, costas elegantes e mente serena, mas determinada.

E perto de mim, sou recém nascida.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Intenção



Uma vida meio despedaçada, meio triste, como se tentasse se ajustar aos poucos méritos que obteve, como se tentasse fazer da seriedade um esboço de sorriso...
Como se ganhasse um urso tristonho ao invés da Barbie almejada...
Como mãe querendo compensar ausência com um docinho...
Como palhaço que tenta fazer rir e só não fracassa porque é palhaço, e merece o mínimo de compaixão...
Como uma foto apagada de anos atrás na qual podemos notar certos defeitos, contradições com a idéia de lembrança feliz... Foto de festa de aniversário, com letras descolando da parede... O PARABÉNS sem P nem N... o PAULA sem U nem A...
Uma vida cheia de boas intenções, como se me dissesse: "espere, não chore, ela é cheia de defeitos, cheia de amargura, mas também é boa, viu?"... se faz, então, um sorriso apagado... e de repente um engasgo...
E eu já senti isso antes... Espécie de simpatia pelo que fracassou em me fazer feliz com tão pouco...
É a minha criança chorando e sorrindo, com aquele olhar profundamente magoado de quem é incompreendido, mas perdoa e se contenta.

Gosto do modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.
(Clarice Lispector)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Adivinha

Adivinha só...
O mundo é podre.
E o seu voto num candidato ou em outro não vai fazer diferença.
Você não passa de um boneco títere.
Pode esquecer as suas pesquisas, as suas fontes, porque tudo o que você precisa saber está muito além delas.
Está nas pessoas ali representadas e representantes
Na criação
Na família
Na história
Nos traumas
Nos valores
Nas contradições
Nos sonhos
Nas vontades
E isso não temos como saber sequer sobre nós mesmos.
Esqueça.
No fundo todos são vigaristas e vítimas.
E vão fazer de tudo para manter as coisas exatamente como estão.
A verdade é:
O mundo é podre
E tudo isso parece um espetáculo encenado

Mas adivinha só...

O mundo é podre.

A vida não.
A essência não.
E se existe podridão...
Também existe pureza.

domingo, 10 de outubro de 2010




Como é precioso o seu coração batendo...


terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Todo de cada um e cada um no todo




De repente eu não soube mais para onde ir. Tornei-me estrangeira. Me vi cercada de todos, mas não de todos como um todo, uma massa, mas de todos "cada um". E em cada um contém um constrangimento tão grande em estar lá no todo. E o constrangimento de estar sem ser. E eu, não sendo, não fui. Só fui mesmo é embora dali, longe do todo, mas também longe de mim mesma.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010


Eleição é como tentar ganhar na loteria: você aposta em candidatos, mas nem sempre acerta aqueles que serão eleitos, porque a sua opinião depende da dos outros. E essa é a maior infelicidade e também felicidade.

domingo, 3 de outubro de 2010

Risadas alheias


Sabe quando você se sente tão inconsolável que até a risada alheia chega a te machucar, maléfica feito faca sádica cortando a pele?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Dúvidas

Quando adotamos certas condutas consideradas positivas, adotamos para nós mesmos ou para os outros? E se isso nos satisfaz, é porque nos agrada ou porque agrada aos demais? Como saber se a nossa satisfação advém de nós mesmos ou da imagem que passamos para quem nos assiste?

Amanhecer



Não há realmente alegria na manhã. Apenas, talvez, certa serenidade.

Lista de supermercado


Me incomoda a sensação de procurar candidatos em uma lista, sem ver seus rostos, suas propostas, suas histórias e origens. É quase como quando procuro médicos do convênio para me consultar. Sem uma informação sequer além do nome, não consigo escolher por outro critério senão esse! E, como toda escolha às cegas tem seu risco...

Então é assim?



Na primavera o vento sopra gélido, os ambientes são abafados, o sol é quente, os dias chuvosos e as árvores exuberantes e floridas
Na primavera os pássaros cantam mais alto, o dia nasce mais claro, o tempo passa mais rápido e o amor é mais evidente
Ah, então é assim?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cromossomos XX




Revendo um pouco a minha vida, dificilmente reconheço momentos nos quais desejei ser outra pessoa além de mim. Ao contrário, na maior parte do tempo, tudo o que busco e busquei foi a mim mesma, minha identidade, minha personalidade, meus defeitos, gostos, minhas virtudes e características mais profundas.

Acontece que me vi refletindo um dia desses com os meus amigos e concluí, mais uma vez, o quanto estou satisfeita por ser quem sou, apesar de todos os defeitos. Isso mais especificamente em gênero. Sim. Gosto muito de ter nascido mulher, obrigada, e não desejaria ser homem.

Baseio as seguintes reflexões em minhas experiências com homens até então, através de observações, interações e questionamentos. Não tenho a intenção de alimentar intrigas, promover segregação ou de concluir cientificamente coisa alguma, apenas acredito, apesar de toda semelhança, na existência de diferenças entre homens e mulheres em seus modos de assimilar informações, enxergar o mundo e se relacionar com ele, entre outros aspectos.

Isso deve parecer muito óbvio para você, ou talvez nem tanto, se você mantém ainda algum discurso feminista, no sentido igualitário da coisa. A questão é: homens, pelo menos os que me cercam, são mais práticos mesmo. Vivem de maneira mais objetiva e simples, dispensam nossos famigerados dramas femininos, nossas dificuldades, agonias, questões. Dificilmente me deparo com homens cuja mente se encontre povoada por inquietações, perdida em preocupações interligadas de maneiras inimagináveis, muitas vezes despropositadas. Vejo-os com problemas objetivos, até mesmo palpáveis, que, quando solucionados, o humor é restaurado e a vida segue bem.

Não preciso me aprofundar muito neste aspecto em relação a figura feminina, assim acredito. Tentarei ser breve.
Ser mulher é pensar e repensar sobre o mesmo assunto, em diversos momentos e sob infinitas visões. É sorrir com certa tristeza e chorar com certa alegria. É ver o mundo desabar de uma hora para outra e se reerguer na mesma velocidade, muitas vezes sem motivo aparente. É ser diabo e anjo, mãe e filha, fragilidade e força. É observar um mundo de "algos" mais, mergulhar no infinito, gritar calada ou calar gritando. É ser o paraíso no inferno, o inferno no paraíso ou ambos na Terra. É ser uma criadora em potencial, dotada do milagre da vida. Ser mulher, é também ser menina! Vocês me entendem?!



Permitam-me, então, um "desvio", porque quando concluí o quanto gosto de ter nascido do gênero feminino também pensei em outros aspectos, digamos assim... Mais "banais". Gosto de gastar um tempo do meu dia montando o "look" de acordo com o clima, destino, humor e intenção. Gosto de modular a voz como me convém, expressar interpretar uma idéia, emoção ou pensamento. Gosto da possibilidade de ser histérica, de saltitar por aí sem que ninguém estranhe. Gosto da possibilidade de ler tanto uma revista de moda quanto um livro de mecânica, ouvir tanto música pop melosa quanto heavy metal, de dançar rebolando, de ser extravagante. Gosto da liberdade de chorar copiosamente em público, de andar de braços dados e abraçar forte as amigas, de vestir terninho num dia e vestido no outro, de passar maquiagem, pintar as unhas de N cores e usar salto alto...

Enfim... Dei esta volta toda apenas para dizer: gosto de ser mulher, no sentido pelo qual compreendo esta definição e não desejaria ser outra coisa.

Papo de elevador



O que antes era considerado papo de elevador, hoje já é polêmica. Falar sobre o clima deixou de ser o assunto de quem não tem assunto. Se tornou uma verdadeira inquietação.
Se chove, se faz sol, se esquenta ou se esfria, o clima é sempre comentado com o alarme dos precavidos e agonia dos despreparados. Não se sai de casa sem discutir essa importante questão. Estraga-se o dia se veste sandálias e chove torrencialmente, se veste dois casacos e faz sol escaldante, se veste saia e venta como se houvesse furacão a caminho.
Com um tempo imprevisível desse, se sai bem quem, com a intuição e com os sentidos mais apurados, decifra a língua da natureza. Ou quem se adapta a ela...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Males



Para cada pessoa, deve haver um male com o qual ela precisa conviver. Há quem tenha azia, há quem tenha bronquite, dor nas costas, asma, gastrite, refluxo, etc. Para mim, em algum lugar deve estar escrito a ferro e fogo: enxaqueca. Enxaqueca é a minha sina, o meu mal totalmente desnecessário, a minha rotina. E o pior é que sequer posso afirmar com segurança a procedência exata dessas dores exruciantes na cabeça, mais precisamente do lado esquerdo.

Tem se tornado comum eu ser chamada de hiponcodriaca, como se vivesse procurando doença apenas por visitar um médico ou outro. Primeiramente, manifesto meu sentimento de injustiça em relação a isso. Parece mania nacional, procurar especialista quando já estivermos nos arrebentando de dor por aí, quase um atestado de mártir: "fulana tem dores no joelho a 20 anos, já", "delcrana sofre de gastrite, coitada...". Sinto discordar, pois não há nada de heróico em postergar uma consulta médica, em prolongar dor ou em sofrer com doenças crônicas. Prefiro muito mais prevenir e tentar entender aquilo que meu corpo talvez esteja querendo me dizer.

Digo isso porque, na maioria das vezes, não consigo desvendar os sinais. Tenho dificuldade em entender por que às vezes fico tonta, ou por que minha pressão cai, fico enjoada, sem voz, com a boca seca, etc. E necessito entender, mesmo que para isso custe meu tempo, paciência e dinheiro, quero meus mistérios físicos revelados. Prefiro antes um nome de doença à dor anônima.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sabe?

Não vejo como falar de outro modo senão com o coração, pois, mesmo sendo irracional, se falassemos de outra forma, nada seria real.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Blusões de escola


Quem nunca teve um daqueles blusões de escola?

Que tem aquele calor, no qual você se sente intacta. Impossível alguém lhe fazer mal quando se veste o blusão da escola.

Guardado com tanto esmero, é um escudo protetor, uma máquina do tempo, que te transporta para uma época na qual a vida era mais fácil, os amigos mais frequentes...

Para uma época na qual você era menos um número e mais uma possibilidade, uma esperança.

Eu guardo meu blusão da escola. Com ele puxo as mangas e me faço um ninho.

sábado, 3 de julho de 2010

E quem acha graça em tudo?


Admiro quem acha graça em tudo, mas também acho que quem acha graça em tudo não se encanta, se engana.

Desconfio sinceramente de tamanha descontração. Acho quase perigosa.

Quem acha graça em tudo deve ser no fundo um mar de amargura disfarçada de humor.

Ou um mar de tolerância.

Quem sabe?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Inverno


Eu subestimo o inverno com meus poucos agasalhos, sou singela com o frio.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Marabá



"E os dias de Marabá são assim um delírio de luz, de perfumes, de movimentos sadios e livres, capaz de enlouquecer a imaginação dos pobres seres chamados homens, que vivem em prisões chamadas cidades, dentro de gaiolas chamadas casas, com poeira nos pulmões em vez de ar, catinga de gasolina em vez de vida..."

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Hoje

Hoje eu quero acreditar nas várias possibilidades, na simplicidade da vida e na bondade das pessoas.


Hoje eu quero reparar nos defeitos do mundo e encará-los como reparáveis.


Hoje eu quero me configurar para ser aquilo que desejo, viver como e aonde quiser.


Hoje eu quero entender que disponho de todas as ferramentas necessárias para atingir meus objetivos.


Hoje eu quero enxergar além dos meus limites, quero quebrar barreiras, me desviciar da insatisfação.


Hoje eu quero aprender mais sobre aquilo que irá me impulsionar para o alto.


Hoje eu quero apreciar um pouco mais quem sou e virar senhora do meu destino.


Hoje eu quero construir meus alicerces para prosseguir corajosa e positiva amanhã.

Estranhamentos 2

Me permitam um segundo momento de estranhamento deste mundo.




De repente não era mais um nobre ideal, mas uma teima.
De repente, não era mais um objetivo óbvio, mas uma necessidade biológica.
De repente não eram mais senhores e senhoras de idade procurando auxílio, mas pessoas se apegando ao nada.


Na teima de se manterem vivas, fazem de tudo, aturam até mesmo o próprio inferno na Terra.
Vivem vidas que não desejavam viver
São pessoas que não gostariam de ser
Lamentam sonhos não vividos


Não se renovam, não inovam, não enxergam.


Apesar de caminharem a muito tempo
Apesar de terem vivenciado muitas experiências
Prosseguem nas mesmas condições primordiais
Com as mesmas necessidades e virtudes
Com os mesmos impulsos e desejos


Mobilizam, inclusive, outros a colaborarem com esse desejo mesquinha e sem sentido de existir, ocupar espaço no mundo, mais um átomo de grão de areia no Universo entre tantos.

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