quinta-feira, 27 de junho de 2013

Eu adoro rosas, mas...



Texto retirado do blog da Lola e escrito pela Marjorie.

Dispenso esta rosa!

Dia 8 de março seria um dia como qualquer outro, não fosse pela rosa e os parabéns.Toda mulher sabe como é. Ao chegar ao trabalho e dar bom dia aos colegas, algum delesvai soltar: "parabéns".
Por alguns segundos, a gente tenta entender por que raios estamos recebendo parabéns se não é nosso aniversário (exceção, claro, à minoria que, de fato, faz aniversário neste dia). Depois de ficar com cara de bestas, num estalo a gente se lembra da data, dá um sorriso amarelo e responde "obrigada", pensando: "mas por que eu deveria receber parabéns por ser mulher?".
Mais tarde, chega um funcionário distribuindo rosas. Novamente, sorriso amarelo e obrigada. É assim todos os anos. Quando não é no trabalho, é em alguma loja. Quando não é numa loja, é no supermercado. Todos os anos, todo 8 de março: é sempre a maldita rosa.
Dizem que a rosa simboliza a "feminilidade", a delicadeza. É a mesma metáfora que usam para coibir nossa sexualidade -- da supervalorização da virgindidade é que saiu o verbo "deflorar" (como se o homem, ao romper o hímen de uma mulher, arrancasse a flor do solo, tomando-a para si e condenando-a -- afinal, depois de arrancada da terra, a flor está fadada à morte). É da metáfora da flor, portanto, que vem a idéia de que mulheres sexualmente ativas são "p***s", inferiores, menos respeitáveis.

A delicadeza da flor também é sua fraqueza. Qualquer movimento mais brusco lhe arranca as pétalas. Dizem o mesmo de nós: que somos o "sexo frágil" e que, por isso, devemos ser protegidas. Mas protegidas do quê? De quem? A julgar pelo número de estupros, precisamos de proteção contra os homens. Ah, mas os homens que estupram são psicopatas, dizem. São loucos. Não é com estes homens que nós namoramos e casamos, não é a eles que confiamos a tarefa de nos proteger. Mas, bem, segundo pesquisa Ibope/Instituto Patricia Galvão, 51% dos brasileiros dizem conhecer alguma mulher que é agredida por seu parceiro. No resto do mundo, em 40 a 70 por cento dos assassinatos de mulheres, o autor é o próprio marido ou companheiro. Este tipo de crime também aparece com frequência na mídia. No entanto, são tratados como crimes "passionais" -- o que dá a errônea impressão de que homens e mulheres os cometem com a mesma frequência, já que a paixão é algo que acometeambos os sexos. Tratam os homens autores destes crimes como "românticos" exagerados,príncipes encantados que foram longe demais. No entanto, são as mulheres as neuróticas nos filmes e novelas. São elas que "amam demais", não os homens.

Mas a rosa também tem espinhos, o que a torna ainda mais simbólica dos mitos que o patriarcado atribuiu às mulheres. Somos ardilosas, traiçoeiras, manipuladoras, castradoras. Nós é que fomos nos meter com a serpente e tiramos o pobre Adão do paraíso (como se Eva lhe tivesse enfiado a maçã goela abaixo, como se ele não a tivesse comido de livre e espontânea vontade). Várias culturas têm a lenda da vagina dentata. Em Hollywood, as mulheres usam a "sedução" para prejudicar os homens e conseguir o que querem. Nos intervalos do canal Sony, os machos são de "respeito" e as mulheres têm "mentes perigosas". A mensagem subliminar é: "cuidado, meninos, as mulheres são o capeta disfarçado". E, foi com medo do capeta que a sociedade, ao longo dos séculos, prendeu as mulheres dentro de casa. Como se isso não fosse suficiente, limitaram seus movimentos com espartilhos, sapatos minúsculos (na China), saltos altos. Impediram-na que estudasse, que trabalhasse, que tivesse vida própria. Ela era uma propriedade do pai, depois do marido. Tinha sempre de estar sob a tutela de alguém, senão sua "mente perigosa" causaria coisas terríveis.

Mas dizem que a rosa serve para mostrar que, hoje, nos valorizam. Hoje, sim. Vivemos num mundo "pós-feminista" afinal. Todas essas discriminações acabaram! As mulheres votam e trabalham! Não há mais nada para conquistar! Será mesmo? Nos últimos anos, as diferenças salariais entre homens e mulheres (que seguem as mesmas profissões) têm crescido no Brasil, em vez de diminuir. Nos centros urbanos, onde a estrutura ocupacional é mais complexa, a disparidade tende a ser pior. Considerando que recebo menos para desempenhar o mesmo serviço, não parece irônico que o meu colega de trabalho me dê os parabéns por ser mulher?

Dizem que a rosa é um sinal de reconhecimento das nossas capacidades. Mas, no ranking de igualdade política do Fórum Econômico Mundial de 2008, o Brasil está em 10oº lugar entre 130 países. As mulheres têm 11% dos cargos ministeriais e 9% dos assentos no Congresso -- onde, das 513 cadeiras, apenas 46 são ocupadas por elas. Do total de prefeitos eleitos no ano passado,apenas 9,08% são mulheres. E nós somos 52% da população.

A rosa também simboliza beleza. Ah, o sexo belo. Mas é só passar em frente a uma banca de revistas para descobrir que é exatamente o contrário. Você nunca está bonita o suficiente, bobinha. Não pode ser feliz enquanto não emagrecer. Não pode envelhecer. Não pode ter celulite (embora até bebês tenham furinhos na bunda). Você só terá valor quando for igual a uma modelo de 18 anos (as modelos têm 17 ou 18 anos até quando a propaganda é de creme rejuvenescedor...). Mas mesmo ela não é perfeita: tem de ser photoshopada. Sua pele é alterada a ponto de parecer de plástico: ela não tem espinhas nem estrias nem olheiras nem cicatrizes nem hematomas, nenhuma dessas coisas que a gente tem quando vive. Ela sorri, mas não tem linhas ao lado da boca. Faz cara de brava, mas sua testa não se franze. É magérrima (às vezes, anoréxica), mas não tem nenhum osso saltando. É a beleza impossível, mas você deve persegui-la mesmo assim, se quiser ser "feminina". Porque, sim, feminilidade é isso: é "se cuidar". Você não pode relaxar. Não pode se abandonar (em inglês, a expressão usada é exatamente esta: "let yourself go"). Usar uma porrada de cosméticos e fazer plásticas é a maneira (a única maneira, segundo os publicitários) de mostrar a si mesma e aos outros que você se ama. "Você se ama? Então corrija-se". Por mais contraditória que pareça, é esta a mensagem.

Todo dia 8 de março, nos dão uma rosa como sinal de respeito. No entanto, a misoginia está em toda parte. Os anúncios e ensaios de moda glamurizam a violência contra a mulher. Nas propagandas de cerveja e programas humorísticos, as mulheres são bundas ambulantes, meros objetos sexuais. A pornografia mainstream (feita pela Hollywood pornô, uma indústira multibilionária) tem cada vez mais cenas de violência, estupro e simulação de atos sexuais feitos contra a vontade da mulher. Nos videogames, ganha pontos quem atropelar prostitutas.

Todo dia 8 de março, volto para casa e vejo um monte de mulheres com rosas vermelhas na mão, no metrô. É um sinal de cavalheirismo, dizem. Mas, no mesmo metrô, muitas mulheres são encoxadas todos os dias. Tanto que o Rio criou um vagão exclusivo para as mulheres, para que elas fujam de quem as assedia. Pois é, eles não punem os responsáveis. Acham difícil. Preferem isolar as vítimas. Enquanto não combatermos a idéia de que as mulheres que andam sozinhas por aí são "convidativas", propriedade pública, isso nunca vai deixar de existir. Enquanto acharem que cantar uma mulher na rua é elogio , isso nunca vai deixar de existir. Atualmente, a propaganda da NET mostra um pinguim (?) dizendo "ê lá em casa" para uma enfermeira. Em outro comercial, o russo garoto-propaganda puxa três mulheres para perto de si, para que os telespectadores entendam que o "combo" da NET engloba três serviços. Aparentemente, temos de rir disso. Aparentemente, isso ajuda a vender TV por assinatura. Muito provavelmente, os publicitários criadores desta peça não sabem o que é andar pela rua sem ser interrompida por um completo desconhecido ameaçando "chupá-la todinha".

Então, dá licença, mas eu dispenso esta rosa. Não preciso dela. Não a aceito. Não me sinto elogiada com ela. Não quero rosas. Eu quero igualdade desalários, mais representação política, mais respeito, menos violência e menos amarras. Eu quero, de fato, ser igual na sociedade. Eu quero, de fato, caminhar em direção a um mundo em que o feminismo não seja mais necessário.

...Enquanto isso não acontecer, meu querido, enfia esta rosa no dignissímo senhor seu **.

Texto retirado do blog da Lola e escrito pela Marjorie.

Filme de terror sem final feliz (?)


Tudo bem, Sombra, se você quer me sugar de volta para as trevas neste exato momento, não tem problema.

Foda-se.

Eu perdi o medo do escuro.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Como eu me sinto quando a vida bandida fica mais difícil...




Em épocas tenebrosas de crise existencial, isso só pode significar uma coisa: recaída judaica.

L'chaim!



segunda-feira, 17 de junho de 2013

Decepções



De decepção em decepção, me restou um vazio pulsante, um silêncio ensurdecedor e lágrimas mais secas que um deserto.

sábado, 8 de junho de 2013

Sobre o Estatuto do Nascituro




Para as pessoas que ainda insistem neste mito estúpido do "instinto materno", como se toda mãe devesse amar seus filhos, independente de tudo. Fica aqui uma dica incrível: não, nem toda mãe ama seu filho. Ou você vai me dizer que nunca ouviu falar em mães que abandonam os filhos, em mães negligentes, ausentes, ou em mães que até mesmo  atiram o filho pela janela. Isso não é mero desequilíbrio mental. Isso se chama gravidez indesejada levada ao extremo.

Mães não são ciborgues projetados para amar incondicionalmente. Mães são seres humanos, com todas as complexidades, todos os dilemas e todas as inseguranças que qualquer pessoa carrega. Quando uma mulher dá a luz, imagino, não ocorre um fenômeno mágico que a transforma imediatamente numa criatura santa e sobrenatural, e não há nada de glamoroso e fantástico na gravidez. Acha que eu estou mentindo? Então experimente engravidar.

Tendo dito isso, gostaria que imaginassem, então, uma mulher que carrega em seu ventre um feto fruto de um abuso sexual. Além de ser uma gravidez indesejada, é uma lembrança viva de uma violência, de um homem que, brutalmente, a violentou, invadiu dolorosamente a sua intimidade, a humilhou, subjugou, feriu de todas as formas possíveis.

O que eu consigo visualizar desta situação é uma mulher despreparada, humilhada e abandonada, sendo obrigada a alimentar em seu âmago um ser que a recordará todos os dias de uma violência, a qual, por si só, já teria sido suficiente para marcar sua vida para sempre. Eu só consigo imaginar uma mulher que definha e morre por dentro, enquanto um ser vai ganhando forças as suas custas. As custas do sofrimento dela.

O que eu consigo visualizar é uma criança rejeitada por uma mãe confusa que não consegue amá-la por completo. Uma criança complexada, magoada, que, ao longo da vida, provavelmente irá desejar não ter nascido, porque se sente um fardo e sente uma profunda e incorrigível culpa por ter "arruinado" a vida da própria mãe.

Por favor, pessoas que se opõem ao aborto, se coloquem no lugar dessas mulheres. Dessas mulheres que engravidam violentadas por um homem; que engravidam, mas o bebê possui alguma doença que o impedirá de ter uma vida digna, ou então sequer nascerá vivo; que engravidam por acidente - e não venham me dizer que não ocorre, pois ocorre, porque nenhum método anticoncepcional é 100% seguro - e não possuem nenhuma condição para criar uma pessoa como se deve.

Se coloquem no lugar dessas mulheres que não apenas precisarão passar por uma gestação incômoda, mas terão uma responsabilidade para o resto de suas vidas. Dessas mulheres que abrirão mão de seus sonhos, de seu tempo, de sua energia, de seu dinheiro e de sua autonomia para se dedicar a criação de outro ser humano. Porque, aparentemente, as pessoas esquecem que a questão não se encerra numa sala de parto, no abortar ou não abortar.

Espero que vocês sejam capazes de prever as consequências de crianças nascidas em contextos inoportunos. Espero que consigam se lembrar de todas as crianças miseráveis que moram pelas ruas, de todas as crianças maltratadas, de todas as crianças abandonadas em orfanatos e de todas as crianças assassinadas.

Na minha opinião, é muito mais ""simples"" interromper todo este drama enquanto este ser ainda não nasceu, ao invés de trazer ao mundo mais uma criança desamparada e um futuro adulto desequilibrado, traumatizado e inseguro. Melhor ainda: interromper todo este drama enquanto o ser é ainda um embrião e não sentirá nenhum tipo de dor.

Para mim, obrigar uma mulher a se manter grávida é assinar uma sentença de morte para a mãe e para o ser humano dentro dela. É claro que há sempre a possibilidade de o bebê nascer e ela amar ser mãe, mas e se isso não ocorrer? Se isso não ocorrer, se você é contra o aborto e a favor deste Estatuto, você está sentenciando uma mulher a interromper sua vida e, provavelmente, está sentenciando uma criança a viver pela metade.

Porque defender a vida pela vida para mim não conta. Viver por si só não é a única coisa que importa. É preciso viver com qualidade, num ambiente saudável e positivo. Viver sabendo que é amado, que sua família torce pelo seu sucesso, que terá oportunidades de crescer e se aprimorar.

Ter um filho não é (ou pelo menos não deveria ser) para qualquer um! É para pessoas cuja missão de vida seja criar um indivíduo. É para pessoas que se amam e contam com uma ótima estrutura familiar, psicológica e financeira. É para pessoas interessadas em desenvolver esses laços de mãe/pai e filhx. 

Não é para pessoas vaidosas que gostam da ideia de ter um "mini mim". Não é para pessoas que seguem a boiada e acham que simplesmente "faz parte da vida". Não é para pessoas que sequer conseguem se sustentar. Não é para pessoas que não questionam a si mesmas, nunca consultaram um terapeuta ou nunca buscaram se aprimorar. Não é para casais desfuncionais que acreditam que a salvação está num bebê. Não é para jovens estudantes, nem para velhos frustrados, nem para pessoas entediadas com a própria vida. E definitivamente não é para pessoas que têm filhos para poder pedir esmola na rua ou para garantir um Bolsa Família da vida.

Entendem?

Não é para qualquer um e pronto!

Já existem pessoas sofridas, desamparadas e desequilibradas DEMAIS no mundo, eu tenho certeza de que não precisamos de mais. Então, se uma mulher não possui nenhuma condição de criar um ser humano, então ela precisa de todo o apoio e de todas as condições para interromper sua gravidez com segurança.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Felicidade


Está muito difícil ser feliz. Para falar a verdade, está quase impossível. Mundo escandalosamente errado, não dá mais para ignorar... Seria ridículo me fechar numa redoma, achar tudo legal, pensar nas comprinhas do dia dos namorados, nas "férias" de julho, dar risada... É cínico, doentio. É rir para chorar na sequência. Copiosamente. Até arrancar todo esse ranço de realidade do peito. Não dá mais para continuar assim.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sobre a música



Música boa leva a alma para dançar...


Creative Commons