segunda-feira, 20 de dezembro de 2010


Agora eu entendo. Estou apenas buscando as minhas respostas.




Soja Fermentada e o Anticristo



Uma vez fui comer num restaurante da Liberdade, e decidi pedir um temaki de soja fermentada. A dona do estabelecimento, após entreouvir nossa conversa com a garçonete, veio afoita e interrompeu, convicta: não peça!

Fiquei assustada com a súbita intervenção. Ela disse, em tom muito sério, que nem os próprios filhos japoneses pediam, que não é para todos os paladares. A soja fermentada devia ser o horror absoluto! Marginalizada até no próprio país! Um escândalo!

Mas não pude deixar de sentir, também, aquela pontinha de ressentimento. Ela estava claramente subestimando o meu paladar, o meu gosto, a minha capacidade de gostar do diferente. Me senti quase desafiada, num ímpeto irracional de pedir o tal temaki de soja fermentada e provar a ela que estava enganada!

Mas bastou ela dizer que a comida em questão cheirava mal e toda a minha coragem foi por água a baixo. Comida que cheira mal, nem se tivesse o gosto do melhor néctar divino.

Passado este acontecimento, de repente me vi na mesma situação, só que ao contrário.

Quando me perguntam sobre o filme "O Anticristo", ou sequer escuto alguém citar o filme, com a mesma urgência e gravidade da dona do restaurante, alerto: não assista!

É sério. Muito sério. Não assista este filme. E não se sinta tentado a assistir. Mesmo que, neste momento, eu esteja atiçando o seu ego, ou algo assim: não assista!

Mesmo que o seu amiguinho descolado e destemido indicar: não assista!

Mesmo que algum cinéfilo dizer que há nele uma profundidade incompreensível aos reles mortais: não assista!

Mesmo se o seu coleguinha satânico e metido a intelectual fervorosamente defendê-lo: não assista!

Mesmo que disserem, algum dia, quando o diretor estiver morto e, por isso, começar a ser considerado absolutamente genial: não assista!

E agora vou usar um pouco de psicologia reversa para te convencer: ah, tanto faz, assiste se quiser.

E agora eu volto a tiranizar geral: NÃO ASSISTA!

Se eu pudesse definir este filme em uma só palavra seria: desnecessário.

Se eu pudesse passar uma última mensagem para a humanidade seria esta: não assista "O Anticristo"!

Se só houvesse uma chance de mandar para o espaço numa nave espacial aquilo que não presta mais para a Terra, eu colocaria todas as cópias existentes deste filme nela. E todas carbonizadas, de preferência, para que nem os extraterrestres sofram com isso.

Escute bem, porque quem avisa amigo é: "O Anticristo" é como soja fermentada, com a diferença de que não é para NENHUM paladar.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Oração do Rock


Elvis Presley que estais no céu;
Muito escutado seja Bill Haley;
Venha a nós o Chuck Berry;
Seja feito barulho à vontade;
Assim como Hendrix, Sex Pistols e Rollings Stones.
Rock and roll que a cada dia nos melhora;
Escutai sempre Clapton e Neil Young;
Assim como Pink Floyd e David Bowie, Muddy Waters e The Monkees.
E não deixeis cair o volume do som 102,1 de estação.
Mas livrai-nos do Pagode e Axé.
Amém!

Sorrisos estranhos


Eu lembro quando fiz um estranho sorrir. Usava um nariz de palhaço daqueles que encaixam. E sorria. Sorria para o estranho, convidando-o a sorrir também.

E ele, o estranho, me devolveu o sorriso, num misto de timidez com cumplicidade. E alívio.


A perda

Se eu pudesse definir perda em uma palavra seria "vazio". Porque quando perdemos alguém, é como se a nossa vida se esvaziasse de sentido. Planos, sonhos, ocupações, perdem um pouco da razão de ser, não como se deixassem de ter utilidade objetiva, mas como se deixassem de ter aquele toque especial que nos impulsiona a concretizar com mais convicção, tranquilidade e felicidade.


Não me refiro, entretanto, a perdas maiores e irremediáveis, daquelas pelas quais sentimos vontade de arrancar o coração do peito tamanha a dor. Não. Me refiro a perdas mais inusitadas, nostalgias do que não se viveu ou deixou de viver, como se "de repente, não mais que de repente [...] fizesse* do amigo próximo, o distante...". Precisamente isso. Uma perda fruto de separação.


A nossa vida, de compartilhada, vira só nossa. E isso assusta, como se de uma hora para outra caminhassemos sozinhos por um trajeto, não necessariamente obscuro ou perigoso, mas sem uma mão segurando a nossa.


A realidade se torna um pouco mais real e por isso, talvez, mais difícil, porque se preenche por uma repentina apatia. Como em certa música que eu ouvi, é uma "ausência fazendo silêncio em todo lugar". Um silêncio nublado e quase agudo.


Isso me faz pensar se por acaso sou dependente das pessoas a esse ponto. Se a minha vida é tão errada que sem os outros perde o significado, como se perdendo o outro me perdesse um pouco também.




Acho que a felicidade, de fato, só é real quando compartilhada.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A morte de cada dia





"Meu trabalho mais que forçado
Morrendo comigo na mão"

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pessoas simples


Eu me assustei quando olhei para o seu rosto novamente. Fazia tanto tempo, já havia me esquecido de como é. E imediatamente fui tomada por um pressentimento de mundo incorrigível, um calafrio... Recuei abalada. E olhei um pouco mais de longe. Notei como tudo isso é bobagem, como, de fato, tudo pode ser muito mais simples do que aparenta.

 

A vida é simples, mas não por isso menos dolorosa. Há certo... Como posso dizer? Há certo... Temor na simplicidade - digo isso temendo, até, a palavra temor -. Estremeço imaginando como ser simples pode também significar ser duro em sua tranquilidade, monossilábico em sua praticidade. Ser simples é andar sempre em frente, é contornar, indiferente, os problemas.


Ser simples, para mim, é também ser insensível. E por ser complexa como sou, acho que não sei lidar com isso sem me assustar. As pessoas simples me deixam desconfortável, elas me escapam, nunca entendo suas impressões de mundo, são imprevisíveis.

 

Às vezes imagino se as pessoas simples não são, na verdade, muito complexas para corresponderem a isso através de seus atos. Talvez vivam numa imensidão compreendida apenas por elas e mais ninguém, por isso se tornam um mistério absoluto. Já conheceram Lord Henry Wotton, de "O Retrato de Dorian Gray"? Ele é uma pessoa simples, mas verborrágica.

 

Não gosto quando pessoas simples se fazem de complexas, por outro lado. Parecem indiferentes, mas com tal acidez... Decidiram ignorar odiando, ao invés de ignorar desistindo. Desistindo, por antecedência, de explicar porque ignoram, porque seguem em frente e porque abandonam com tanta facilidade.

 

Acho que hoje simplesmente estou assustada.

 

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