quarta-feira, 30 de março de 2016

Mude o Meu Look?



Precisamos problematizar os programas televisivos voltados à "transformação de mulheres". Vira e mexe eu assisto, porque gosto de ver as combinações de roupas, mas a premissa destes programas é muito agressiva. Expõem as mulheres ao ridículo, fazem de tudo para esmigalhar a autoestima delas e, como se não bastasse, as levam a acreditar que a vida, a felicidade e a carreira dependem totalmente da aparência.

Hoje assisti uma mulher confiante, que se amava, poderosa, com os cabelos cacheados maravilhosos, cheia de personalidade, ser pouco a pouco diminuída e massacrada por uma série de críticas vazias e jocosas. Fizeram ela passar por um "experimento", no qual ela foi exercer o seu trabalho dos sonhos vestida ao seu modo, para no final pegarem a "opinião" do chefe e ele dizer que ela era "promissora", mas a aparência dela seria "um problema".

No final sobrou uma mulher triste, padronizada, de cabelos lisos e loiros e olhos apagados. Tive certeza de que ela não gostou, mas foi obrigada a falar que sim.

Até quando iremos tolerar este tipo de tratamento, pelo qual somente mulheres parecem precisar passar? Por que escolhem mulheres perfeitamente felizes com elas próprias e depois as destroem publicamente, enchem a cabeça delas com inseguranças, alimentam complexos? Até quando?

sexta-feira, 18 de março de 2016

Descompasso

O miado do gato me arranca do sono e, antes mesmo de abrir os olhos pesados, tateio o colchão freneticamente em busca do meu celular, que se tornou quase uma extensão do meu braço.
Me sinto desnorteada, como se metade de mim quisesse viver e amar ardentemente e metade estivesse inerte, pronta para entrar em coma. Com o corpo pesado e a alma leve, entro numa dicotomia paralisante. A vontade de amar e viver é igual a vontade de me apagar e cancelar o dia.
Aperto os botões do celular e a luz ofusca meus olhos semicerrados. As primeiras notícias do dia são como cafeína, sem elas permeando a minha mente não tenho o combustível necessário sequer para me deslocar ao banheiro.
Levanto e abro a porta. O gato me recebe caloroso, mia incompreendido e se enrosca nas minhas pernas. Retribuo com um afago e prossigo. Embora esteja caminhando ainda sonolenta, já quero amar, beijar, abraçar o mundo todo, mas meu corpo se recusa a obedecer prontamente e deseja apenas deitar e dormir.

Creative Commons