quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Você Rafael



Assim como a minha eu idosa, você, Rafael, é tão você. Não é mais tão aquele que me acompanha, o Niquito. É outra pessoa, tão cheia de histórias e verdades, tão para si, tão você. Tão você sem mim.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Alimentar-se



O ato de se alimentar é tão íntimo. Às vezes mais íntimo que o sono, mais íntimo que o beijo. Quando você se alimenta com outra pessoa, não está apenas se socializando, está compartilhando de um momento sagrado. Não seria, pois, um ato de fragilidade, aquele do qual depende a sua vida. E é, entre os outros animais, um ato todo secreto. Lobos não jantam juntos, leões não compartilham de um bom almoço, é cada um virado para sua própria comida. Na luta pela sobrevivência, não se pode dar ao luxo. Só nós, humanos, que ainda baixamos a guarda de tal forma.

Para mim é íntimo demais estar ao lado de quem come, nutre o corpo, coloca boca a dentro seu alimento tão precioso, mas tão subestimado...

Eu idosa


Eu sou uma outra eu quando penso numa eu idosa. E o estranho é que essa eu idosa exigiria respeito como qualquer outra idosa. 

Acho engraçado imaginar um encontro da minha eu idosa com a minha eu de agora. Cumprimentaria daquele meu modo doce e distante de quem compreende a existência de certo respeito hierárquico? Cederia meu lugar? Ajudaria a sentar e a andar repousando seu (meu?) braço no meu? Falaria de maneira baixa e lenta? 

Não quero dizer que seja uma outra eu totalmente distinta. É apenas uma eu distante. Uma eu muito ela, cheia de peculiaridades e experiências, mas também, para a eu de agora, uma eu cheia de estereótipos. Só porque sou eu mais velha, não significa que é outra. Cumprimentaria como cumprimento a mim mesma. Não cederia meu lugar, procuraria outro para ela. Não daria o braço porque a (me?) ajudo, mas porque nos ajudamos. Falaria como converso comigo mesma. 

Como tudo isso ocorre, entretanto, já é outra questão, quase diretamente proporcional ao modo como me trato. Se eu gosto ou não de mim mesma, isso iria se refletir na minha interação com a minha eu idosa e vice-versa. Acho que se eu encontrasse a minha eu idosa, ouviria-a com toda a atenção e respeito, mas muito mais que isso, com toda a cumplicidade. Seria um encontro muito emocionante, sem dúvidas... Talvez o encontro mais aguardado de todos os tempos. O encontro comigo mesma.

terça-feira, 9 de novembro de 2010



Quando temos que pedir licença para o mundo para sermos e existirmos a nossa maneira...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Quando os raios de sol se agarram às sombras





Agora a pouco o mundo estava sépia. Eram sete e meia da noite, e o mundo adquiria uma cor rosada em meio ao céu cinza escuro, carregado de chuva. E aqueles raios rosados atingiam e se agarravam aos seus anteparos como se lutassem para que o sol não se posse. Nunca vi coisa igual. A noite empurrando o dia para dominar soberana o mundo, deixando-o escuro e quieto. Mas amanhã surgirá o sol novamente, imponente e quente, para mais um dia de primavera.

sábado, 6 de novembro de 2010

O Mundo Mágico de Paula - Baladas

Me surpreende muito como na festinha aí do lado está tocando precisamente tudo que se tocava a 9 anos atrás, quando eu estava na 4ª série, ou a 20 anos atrás, 40 anos...

"Para bailar la bamba", "Macarena", "Twist and Shout", "It's raining man" e outras pérolas fazem parte do repertório. 

E eu aqui me desespero e não consigo deixar de me perguntar por que diabos isso AINDA toca nas festas!?
Nessa cara de pau horrorosa... Como pode? Pagar um animador de festas para isso???

Pois bem, se fosse eu... Melhor, se fosse no Mundo Mágico de Paula....! Ah, minha playlist seria diferente...

Começaria com The Killers, então tocaria Mika, Amy Winehouse, Beatles, Muse, Portishead, Black Eyed Peas, algumas da P!nk...

E festa seria lugar para dançar e se divertir! Nada dessa história de querer pegar todas/todos e ou ficar bêbado até cair!

Aliás, não teria bebida alcoólica de nenhum tipo. E a festa contaria com vários jogos de tabuleiro, jogos de video game e afins espalhados em salas.

Também contaria com um potente isolamento acústico que isolaria uma sala da outra, possibilitando, até, salas estilo lounge, nas quais as pessoas pudessem apenas conversar com calma. E outras salas de karaokê!!! Para grupos maiores e para grupos menores ou abertas a todos!

E teria palco para banda ao vivo e outras atrações artísticas, lógico!

Seria incrível.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Você sabe guardar um segredo?


Sinto uma simpatia estranha por quem faz esse tipo de pergunta.

Talvez exatamente pela raridade dela.

Hoje é tão raro as pessoas confiarem umas nas outras...

Poluição nossa de cada dia


Antes de inspirar profundamente, farejo o ar, procurando o direção para a qual apontar o nariz.


A essência de uma rosa


Ganhei três rosas de aniversário. Digo, quatro: uma delas não fazia parte do grupo, mas era tão meiga em suas pétalas feitas de tecido. E tinha uma trufa de chocolate em cima.

Mas o que fazer com as rosas? Eu quase não as vejo, são quase mito. Quando vejo, estão conservadas numa imagem de computador ou num calendário de parede. Não há, porém, imagem que as contenham. As rosas são robustas, mas são distantes. É preciso que se reinventem em diversas imagens, ângulos, cores, estilos, personalização, porque as rosas, mesmo retratadas, estão ausentes. Eu sei disso, tentei, mas na minha foto eram rosas como outras quaisquer. A essência de uma rosa é incapturável. Elas são místicas, quase como soubessem de algo insuspeito e não quisessem revelar.

Então as observei, com o encanto de quem não compreende. As rosas são exigentes, mas não são duras. Elas, sim, entendem os nossos limites, compreendem nossa incapacidade de admitir a perfeição, mesmo diante de nós, ao nosso alcance. Mesmo as rosas sendo intocáveis e condescendentes como são, toquei-as, humilde, senti suas pétalas sedosas. Aproximei-as de mim para sentir seu aroma suave, sensual, agreste, adocicado. Contemplei-as eternamente, tentando a todo custo retê-las vivas em minha memória, da maneira perfeita como existiam naquele momento, naquele quarto abafado.

Não consegui, no entanto, decifrá-las. Não consegui torná-las eternas. Elas estavam distantes e eram únicas. E eu não consegui compreendê-las. Suas essências não se revelaram a mim.

Acho que cometi um erro.

Já tive medo de amar uma rosa.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Apatia



Hoje é um daqueles dias nos quais não se vive... espera.

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