sexta-feira, 18 de março de 2016

Descompasso

O miado do gato me arranca do sono e, antes mesmo de abrir os olhos pesados, tateio o colchão freneticamente em busca do meu celular, que se tornou quase uma extensão do meu braço.
Me sinto desnorteada, como se metade de mim quisesse viver e amar ardentemente e metade estivesse inerte, pronta para entrar em coma. Com o corpo pesado e a alma leve, entro numa dicotomia paralisante. A vontade de amar e viver é igual a vontade de me apagar e cancelar o dia.
Aperto os botões do celular e a luz ofusca meus olhos semicerrados. As primeiras notícias do dia são como cafeína, sem elas permeando a minha mente não tenho o combustível necessário sequer para me deslocar ao banheiro.
Levanto e abro a porta. O gato me recebe caloroso, mia incompreendido e se enrosca nas minhas pernas. Retribuo com um afago e prossigo. Embora esteja caminhando ainda sonolenta, já quero amar, beijar, abraçar o mundo todo, mas meu corpo se recusa a obedecer prontamente e deseja apenas deitar e dormir.

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