domingo, 4 de março de 2007

A catraca da idade


Eu nunca liguei para esse negócio de ser "de maior". Na verdade, eu sempre evitei crescer por uma questão de personalidade, ou talvez de apego, ou talvez dos dois. Mas há momentos em que é quase impossível não desejar ser um ou dois anos mais velha quando você ainda é "de menor". No meu caso eu diria que seria ótimo às vezes ter um ano a mais e depois voltar a minha idade de agora. Crescer só por conveniência.

Aconteceu de hoje eu enfiar na cabeça a idéia de ir para uma festa a fantasia com sorvetes lá no clube. Todo mundo ia, eu não estava fazendo nada de melhor e também seria interessante fazer um programa diferente da maratona de msn de sábado, só para variar um pouco. Imaginem só que divertido! Ir da maneira mais ridícula possível para todos rirem da tua cara, e ao mesmo tempo rir da cara dos outros, e então pegar um sorvete e sair comemorando a pessoa bizarra que há dentro de cada um de nós. Provavelmente no dia seguinte ninguém se lembraria das maluquices que você fez só por que estava fantasiado e realmente acreditava que ninguém te reconheceria. Isso até você ouvir os comentários que imaginavelmente chegaram até o porteiro da sua avó, depois até a vizinha dela, depois até a empregada dela, depois até ela, depois até a sua tia e mais tarde até a sua mãe. E então você pergunta o que raios deu de errado já que a comunidade judaica é tããão grande e a probabilidade de você esbarrar com alguém conhecido na Hebraica é diminuta... Erm... Enfim...

Sobre a festa ser para maiores de 18? Sem problemas, afinal na última festa do gênero não pediram nada de documentos, só convite, e isso eu já tinha arranjado à dois segundos atrás com algumas ligações. Além do mais, a única coisa que tem nessas festas para maiores é bebida alcólica, coisa que não me atrai realmente, logo não haveria motivos para preocupações por parte dos pais. E qualquer coisa eu ainda poderia me infiltrar na festa fazendo todo um caminho pela piscina ou simplesmente entrar na cara dura, assim como fiz da última vez. Só o que faltava era o convite da minha irmã e este ela comprava na hora. Nada poderia sair errado com essa maravilha de plano.

Então faço toda aquela cerimônia de sempre: Horas na frente do armário, roupa ali, roupa aqui, me empresta isso, me empresta aquilo, banho, secador no cabelo, oleozinho para não armar (mas já armando), espelho numa mão, lápis de olho na outra, "cadê a minha bolsa?", "cadê o meu sapato?", berra da sala para o quarto, da cozinha pro banheiro, do banheiro para a sala, todo o mundo na porta de casa, "tá tudo aqui, não estou esquecendo de nada?", "você tá aqui, eu não estou esquecendo de nada?", pega as chaves, os documentos e vamos em frente que atrás vem gente, hoje é sábado e a noite é uma criança.

Chegando lá, dou de cara com as minhas velhas companheiras de dança. Elas também são novas e por isso estavam lá na porta agitadas porque não sabiam se iam entrar. "É... Acontece que desta vez sem R.G. não entra no CLUBE e eles tão barrando todo o mundo que não tem.". Ótimo, por essa eu não esperava.

Que raiva! Então tudo foi em vão, até o oleozinho que eu nunca passo porque sempre deixa meu cabelo meio estranho, mas que desta vez tinha funcionado, não ia servir para nada. Vi todo o sorvete, as fantasias, a dança, os sonhos infantis, afundarem mais rápido que eu caindo na piscina da "descarga" do Wet'n Wild.

Foi então que logo depois surgem as minhas amigas e junto com elas uma idéia. Poderiamos pedir RG's emprestado e entrar depois dos seus donos que usariam outro documento. Moleza. A Lari já tinha, a Mô já tinha, a Téfi já tinha e... Só faltava eu. Quando resolvo sair a procura de um, a minha irmã me chama atenção para um detalhe: O convite dela.

Teve mais essa. Tudo indicava que eles, numa grandiosa demonstração de inteligência, não estavam mais vendendo os convites. Por causa disso, estava cheio de gente "de maior" só esperando um "de menor" não conseguir entrar para comprar o convite do pobre infeliz.

Logo eu e a minha irmã formavamos um ótimo par: Eu sem idade e ela sem convite. Os momentos seguintes foram de luta, solitária por sinal, e nessa todas já tinham entrado na festa. Umas se arrastando por debaixo da catraca, é verdade, mas entrado.


E então chega uma hora na vida de todas as pessoas nobres em que deve-se saber quando, elegantemente, se render às forças contrárias. Foi o que eu fiz ao entregar o meu convite à minha irmã para que ela pudesse usufruir da festa em meu lugar (e eu jamais me arrastaria por aí só para entrar numa festinha, então não teve jeito, mesmo). Contudo devo dizer que o tempo em que esperei a minha mãe vir me buscar foram os mais longos e solitários, e não devem ter durado nem dez minutos. ^^'

Enquanto estava lá, observando melancolicamente os carros passarem, vi dois Willy Wonkas, uma carta de baralho, um palhaço, três bruxas, um mosqueteiro, uma Alice, 20 princesas, uma dançarina de cabaré ("será que era mesmo essa a intenção", pensei maudosamente com os meus botões) e um pirata. O mais engraçado era o fato de todos estes serem "de maior" e eu, a oprimida "de menor", nem fantasia pude colocar pelo inacreditável motivo de "já estar crescidinha para essas coisas". Vai entender...

Enfim, voltei para casa ouvindo os devaneios da minha mãe sobre como ela teve que mostrar o seu R.G. até os 21 anos em todos os lugares que ia, as suas observações quanto a nossa aparência juvenil duradoura (o tal "mal de família", explicou-me com um sorrisinho sugestivo no rosto) e os seus conhecidos mimos: "Será sempre a minha caçulinha..."

Bem... Depois disso passei para aquela fase em que nos conformamos dizendo que a festa ia ser chata mesmo, que só iria ter sabor ruim de sorvete, que aquele bando de adultos numa tentativa ridícula de quererem parecer jovens, festejariam de uma maneira super irritante, que eu ia ter que voltar cedo de qualquer forma, que eu nunca fui muito chegada em Häagen-Dazs, que a probabilidade do meu "ex" estar ali era muito grande...

Eu poderia ter me agarrado a essas idéias e ter me convencido de que o melhor foi não ter ido. Poderia ter até feito uma festa alternativa em casa e ter convidado todos os "de menor", deixando a outra festa no chinelo e dado aquele desfecho moralista a este relato. Mas querem saber de uma coisa? Não ter ido foi um porre mesmo, não vou mentir. O pior foi ter chegado no msn e visto todos aqueles nicks "festa iradaaaaaaaa", "festa PERFEITA"... Mas fazer o que, eu logo chego aos meus 18 anos para poder entrar em todas essas festas altamente engordativas, ser responsável por todos os meus atos perante a lei, me lamentar pelos meus doces 15 anos já passados, entrar numa droga de um estágio e depois no duro "mundo real"... Ahhh... Deixa para lá...

2 comentários:

Renata disse...

Fofucha... da proxima vez a gente faz uma festa na nossa "casa" pra todos nós... dai vc combina c suas amigas, a gente compra La basque em vez de Haagen Dazs... vemos filminhos e tudo mais... até deixo vc fazer pipoca!
Tá bom...
Bjão

(¯`·._.·[««©¡§ëy»»]·._.·´¯) disse...

Hmmmmmm... La Basque também nunca foi láá essas coisas... u_ú

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