quarta-feira, 7 de abril de 2010

De volta para o passado




Recentemente, pude verificar, com muita tristeza, a linha de pensamento jovem da atualidade a respeito das relações pessoais, ou ao menos de uma parte dos jovens. Após anos rumo à evolução, ou como diria um amigo meu, após anos seguindo numa ordem crescente, constato um regresso de âmbito militar, ditatorial, uma ordem decrescente. Não pretendo me demorar nisso, mas explico a teoria: a humanidade vem evoluindo no decorrer dos anos e na década de 60 e 70 várias questões lançadas anteriormente foram de fato discutidas e colocadas em prática, propostas culturais e ideológicas alternativas, as quais pretenderam modificar a ordem social vigente. Eu não estava presente, é claro, mas faço parte do fruto disso e posso notar, por efeito de comparação e reflexão, que graças aos projetos anteriores temos consciência ambiental, não apoiamos a discriminação, a guerra e a desigualdade. Graças a essas rupturas, aos valores presentes naquela época, é possível vislumbrar outros caminhos para se percorrer nesta vida, caminhos nem sempre reconhecidos.

Não por sua iniciativa, mas por seus ideais, o PJP (Parlamento Jovem Paulista) revelou uma imaturidade assombrosa ao propor um projeto de lei claramente repressor, cujo objetivo é censurar e punir o contato físico entre os jovens, sugerindo obscenidade em manifestações de afeto. São sete artigos muito esclarecedores do projeto de lei 67/2009, assinado por Carolina Loures Thomé, dentre os quais cito:

Artigo 1º - Os/as alunos/as das escolas públicas e particulares ficam proibidos/as de namorar com intimidades, beijos e abraços dentro das dependências escolares.

Artigo 2º - Será considerado namoro íntimo se o casal de adolescentes estiver se beijando ou abraçando ou, ainda, isolado do grupo de colegas.

É difícil acreditar na existência de tal proposta, é doloroso, sobretudo, constatar que tenha partido de uma jovem, mesmo após tantos outros jovens, cujos ideais e cujas lutas seguissem por um caminho completamente diverso.

Se a sexualidade ainda é tabu, se há casos frequentes de doenças sexualmente transmissíveis, se ainda existe constrangimento em relação ao assunto, se o sexo é mistificado, se o corpo, o amor, o desejo e suas manifestações são ainda banalizados, não é por causa da disseminada livre expressão, mas porque a sociedade em si é doentia, repressora e pervertida e porque confunde naturalidade com obscenidade.

Com tantas questões de urgência a serem resolvidas, tais como o sistema de coleta seletiva de lixo praticamente inexistente (se comparada ao sistema tradicional), a violência, a fome, a poluição e a miséria econômica e intelectual, é inconcebível a idéia de pessoas priorizarem a repressão quase Inquisitiva aos jovens. Se estes manifestam desejo e carinho de maneira banalizada e/ou promíscua, é por conta da disseminação de uma mentalidade absolutamente maliciosa, a qual não poderia gerar outro comportamento senão o próprio reflexo disso, de uma falta de instrução emocional e sexual verdadeira, sensível e natural.

É triste, ainda, notar como a massificação da humanidade torna as pessoas tão padronizadas e industrializadas ao ponto de verificar jovens priorizando, acima de tudo, os estudos, o vestibular, a entrada num Ensino Superior e a vida profissional, excluindo as relações pessoais, a sensibilidade, a manutenção emocional, a lucidez, o auto-aprimoramento, enfim.

Não tenho a intenção de ser nostálgica, mesmo porque não acredito verdadeiramente na nostalgia, mas na permanência de aspectos positivos do passado. Tendo isso em mente, prefiro acreditar que as lutas e os debates culturais da década de 60 não foram em vão, que a maioria dos jovens discorda, mesmo intuitivamente, deste projeto de lei. Eu prefiro acreditar na evolução da humanidade, apesar de tendências simpatizantes a valores retrógados de uma época pouco elucidativa. Eu prefiro, enfim, acreditar e apelar ao que há de mais íntimo e sensível nas pessoas, àquela consciência sútil, com a qual somos capazes de acreditar, esperar e lutar por um mundo melhor.


P.S.: Como o PJP é apenas uma simulação da Assembleia Legislativa, seus projetos não entram em vigor.

2 comentários:

Nathi disse...

"Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina, Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens,Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua,É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz"

Como a uns anos cantava a voz da Elis...

Como muitas outras vozes entoaram um refrão pelo mundo: "Faça amor, não faça guerra".

Deste mesmo modo grito agora:
L-I-B-E-R-D-A-D-E!

Pelas meninas apaixonadas,
Pelos primeiros beijos atrás do colégio.
Pelas briguinhas entre amigos que não sabem ainda o que é este novo sentimento,
Pelo ABC do amor escolar...e seus dourados anos de coração de estudante!

Tinha escrito um comentário muito mais revoltante, mas deu erro e não tinha salvo, fico com este mais romantico e calmo e termino com a frase:

Sou livre, logo existo.
Livre pra pensar, pra existir, pra amar...porque não pra dar uns amassos no portão da escola?

Nico disse...

Alguns vão para frente, muitos vão para trás... assim caminha a humanidade. Mas também prefiro acreditar que esse pensamento dessa menina trata-se de um excessão. Afinal, uma sociedade não caminha rumo à tolerância através da proibição e penalização...

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