terça-feira, 6 de novembro de 2012

Vegetarianismo


Não lembro por qual razão comecei a pensar assim, mas lembro que, com uns 13 anos de idade, já admirava secretamente essas pessoas chamadas "vegetarianas". Mesmo sem ter nenhum motivo concreto, achava a ideia de não comer carnes mais correta. De alguma forma, era claro para mim que não se alimentar de animais era melhor, mais nobre, mais lógico.

Quando mudei da minha pequena e fechada escola judaica para uma enorme escola tradicional, a qual tinha em cada série uma média de 200 alunos de diversas origens, crenças e filosofias, conheci quem acabou se tornando a minha amiga mais próxima da época. E ela era vegetariana.

Foi acompanhando a rotina dela, frequentando sua casa, compartilhando sua comida, que pude, de fato, entender como funciona o vegetarianismo, conhecer as opções variadas e saborosas de alimentação, os restaurantes e as ideias. Eu já sabia que não era positivo comer carnes, talvez por causa da criação judaica, através da qual aprendi sobre a comida kasher, sobre se alimentar de animais sem lhes causar dor, mas não sabia o quanto era vasto este sofrimento e não havia notado o quão bárbaro e gratuito é comer outros animais.

Um dia minha amiga me contou que estava em processo de se tornar vegana, ou seja, de se alimentar de comida sem origem animal. Não fiquei exatamente surpresa, mas apostei: "quando você virar vegana, eu viro vegetariana." Acredito que eu, no alto dos meus 15 anos, precisava de um estímulo mais divertido, como uma aposta, para levar a ideia adiante, ou talvez eu só precisasse mesmo de um prazo, determinar para mim mesma quando esta mudança ocorreria. Uma promessa pessoal, um compromisso comigo mesma.

Poucos meses depois ela me trouxe a notícia de que começaria o veganismo. Naquele dia, fiz como quem se via derrotada, por precisar cumprir com uma promessa, mas no fundo estava contente e logo à noite perguntei à minha mãe se poderia virar vegetariana. Ela disse que sim e, de um dia para o outro, parei de comer carnes. Isso foi em 2006 e continuo assim até hoje, mesmo depois da minha amiga ter deixado de ser vegana.

No início do meu vegetarianismo, não lembro de ter sentido dificuldades. Lembro que não haviam muitas opções alimentares nos restaurantes nem nos mercados, mas, refletindo sobre isto agora, imagino que eu devesse enxergar desta maneira, porque não possuía um cardápio muito amplo. Não gostava de nenhum grão, além do arroz, não gostava de legumes, só comia batata se estivesse frita, queijo se estivesse na pizza, e por aí vai. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, minha alimentação, de fato, se tornou muito mais nutritiva e saborosa após ter me tornado vegetariana.

Outro ponto positivo foi ter começado a cozinha por conta própria. Desconsiderando algumas provocações do meu pai e de um ou outro parente, minha irmã e minha mãe até me ajudaram. Minha irmã alugava livros de receitas, minha mãe cozinhava para mim, mas com o tempo senti a necessidade de cozinhar meus próprios pratos, equilibrar a minha própria dieta, temperar como achasse melhor. Até porque a minha mãe, acostumada a cozinhar alimentos com carne por quase 40 anos, não deveria se sentir obrigada a mudar todo o seu modus operandis por minha causa. E assim prossigo, experimentando receitas novas e, às vezes, até agradando o paladar dos que se interessam em experimentar meus pratos.

Eu lembro também da revolta, da necessidade de esclarecer a todos sobre o meu ponto de vista. Tive, então, esta fase meio ativista, de publicar no Orkut imagens agressivas sobre o assunto, divulgar o filme "A carne é fraca", mas logo compreendi que eu mesma havia entendido o vegetarianismo na base do diálogo, da pesquisa, e através do exemplo e da convivência. Este me parece um detalhe importante, pois acredito que talvez não teria entendido coisa alguma se tivesse me sentido criticada, agredida ou sufocada por outra pessoa.

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