quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A essência de uma rosa


Ganhei três rosas de aniversário. Digo, quatro: uma delas não fazia parte do grupo, mas era tão meiga em suas pétalas feitas de tecido. E tinha uma trufa de chocolate em cima.

Mas o que fazer com as rosas? Eu quase não as vejo, são quase mito. Quando vejo, estão conservadas numa imagem de computador ou num calendário de parede. Não há, porém, imagem que as contenham. As rosas são robustas, mas são distantes. É preciso que se reinventem em diversas imagens, ângulos, cores, estilos, personalização, porque as rosas, mesmo retratadas, estão ausentes. Eu sei disso, tentei, mas na minha foto eram rosas como outras quaisquer. A essência de uma rosa é incapturável. Elas são místicas, quase como soubessem de algo insuspeito e não quisessem revelar.

Então as observei, com o encanto de quem não compreende. As rosas são exigentes, mas não são duras. Elas, sim, entendem os nossos limites, compreendem nossa incapacidade de admitir a perfeição, mesmo diante de nós, ao nosso alcance. Mesmo as rosas sendo intocáveis e condescendentes como são, toquei-as, humilde, senti suas pétalas sedosas. Aproximei-as de mim para sentir seu aroma suave, sensual, agreste, adocicado. Contemplei-as eternamente, tentando a todo custo retê-las vivas em minha memória, da maneira perfeita como existiam naquele momento, naquele quarto abafado.

Não consegui, no entanto, decifrá-las. Não consegui torná-las eternas. Elas estavam distantes e eram únicas. E eu não consegui compreendê-las. Suas essências não se revelaram a mim.

Acho que cometi um erro.

Já tive medo de amar uma rosa.

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