segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mais uma na multidão




Normalmente tudo o que uma pessoa constrói na vida é no sentido de tornar-se especial para outra, para um grupo de pessoas ou para a sociedade. Ser aceito, ser notado, sentir-se útil ou apenas, por puro egocentrismo, fazer o mundo girar ao seu redor e pronto. Pessoas que sacrificam a vida por um amor, por um filho, por um emprego, por um trabalho voluntário apenas porque dependem da aceitação alheia para aceitarem a si próprios ou pessoas que se aceitam, mas gostam de ser mais valorizadas, gostam de chamar atenção para si, precisam ser diferentes e únicos.

Faço parte daqueles necessitados de aceitação e, ao mesmo tempo, gosto de me sentir útil tanto para pequenas coisas, como para grandes obras. Não sei dizer, no entanto, se isso, que poderia ser denominado "senso de missão", é um reflexo desta vaidade de quem quer, de alguma forma, se sentir especial. Mas, para ser franca, não ligo. E nem condeno. Porque acho natural da espécie humana, espécie social como tantas outras, cada membro querer se destacar do bando por algum motivo. Ainda mais com a nossa cultura cada vez mais individualista e personalizada, da qual eu poderia discursar e teorizar a respeito até não mais poder.

O que eu gostaria mesmo de dizer agora é sobre um momento no qual me senti muito satisfeita em ser apenas mais uma na multidão, apagada no meio dela, só mais uma pessoa muito pequena diante da vida. Um momento no qual eu quis, realmente, me dissolver na massa. E este momento foi na sexta-feira, quando participei do Kabbalat Shabbat na C.I.P., no qual haveria uma homenagem à Vitor Gurman, um amigo que reconheci - pois, segundo Vinícius de Moraes, "a gente não faz amigos, reconhece-os" - durante a viagem à Israel.

Desnecessário dizer o quanto foi comovente o evento, mas é preciso constatar a enormidade dele, tanto em significado quanto em número. Eu pude abraçar Sr. Jairo Gurman, uma maneira simples que encontrei para comunicá-lo o quanto sinto pela perda de seu filho e o quanto desejo ver amparada a sua dor devastadora, embora saiba, no íntimo, da irremediabilidade da situação e do quão minúsculo meu abraço é diante disso. Contudo, quando vi a sinagoga ser preenchida, pouco a pouco, até sua capacidade máxima, notei a importância de fazer parte disso. 

Pode ser que o abraço individual de cada um não fosse exatamente relevante, mas todos os abraços somados e a presença de cada um naquele momento, formando uma enorme massa de pessoas difícil de distinguir uma da outra, seus precedentes, suas intenções ou suas histórias, na realidade, tornasse todos num poderoso montante. Não importava, de fato, quem era quem ali, mas o que uniu cada um ali, algo superior à individualidade de cada um. Sendo apenas mais uma no meio daquela multidão, imaginei, por um instante: "e se cada um  hoje estivesse com preguiça de vir ou colocasse a frente alguma prioridade, desacreditando na importância que teria no meio de todos, como se, por não ter a oportunidade de ser reconhecido como um indivíduo único e essencial, um ser dissolvido na multidão, fosse indiferente participar. Se todos pensassem assim, a sinagoga estaria vazia e a família do Vitor estaria sozinha!"

Neste dia me senti contente por ser massa, e fiquei feliz por cada um ali presente ter sido massa, porque a multidão, imagino, deve ter uma capacidade maior de amparar a dor.


Um comentário:

nico disse...

É engraçado o quanto a gente entre em sintonia as vezes. Estava pensando agora a pouco algo parecido.Que talvez a cura para minhas angustias esteja em alguma atividade que faça o bem para um outra pessoa.

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