quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Raise your glass if you are wrong



É difícil citar todos os momentos nos quais o mundo me fez sentir errada em relação a ele, porque é um equívoco que já ultrapassou o cotidiano, é quase frenético. A todo instante eu estou errada: errada por não ser uma modelo loira de 1,80m, errada por não ser rica, por não ter escolhido me formar em engenharia na faculdade, errada por ter trancado a faculdade, errada por andar a pé, por andar de ônibus, errada por me vestir assim, e não assado, errada por não usar maquiagem nem salto, errada por não ter um Iphone, um Playstation 3 ou um Ipad, errada por gostar de música pop, errada por sorrir, errada por sonhar.


Teve uma época na qual eu me sentia o erro em pessoa. Para as outras pessoas, especialistas nesses assuntos, meus dentes não eram corretos, minha postura não era correta, minha respiração tampouco, meu caminhar era torto, minha alimentação estava errada, até a minha língua estava no lugar errado! O que eu fiz? Tentei me moldar um pouco mais.


Eu não tenho nada contra mudar hábitos se eles, de fato, não são benéficos. Eu tento deixar minha coluna e a minha alimentação em ordem o máximo possível, até mesmo estou aprendendo a cozinhar, um avanço e tanto. Meus dentes já foram alinhados por um aparelho (até se desalinharem depois de retirá-lo), me esforço para manter a respiração profunda, completa e precisa, porque esses detalhes são importantes para a minha qualidade de vida.


Agora o que me tirou do sério mesmo, foi a minha necessidade de me adaptar a hábitos, agora sim, equivocados, apenas para me sentir mais inserida num grupo. Até o ginásio, eu não falava palavrão, não sentava torta na carteira, sequer cruzava as pernas. Foi tudo um processo gradativo e ligeiramente doloroso, até, porque eu via meus colegas de sala jogados nas carteiras e achava que isso era ser "cool", ouvia eles xingando, e achava que isso era ter atitude, via as meninas cruzando as pernas e achava que isso era ser elegante. Então cresço e fico sabendo que a coluna deve permanecer ereta, que xingar é grosseiro e que cruzar as pernas pode dar varizes e aumentar a celulite. E aí era.


A sorte, percebo hoje, é eu ter cedido em alguns aspectos, mas, apesar disso, ter mantido outros. Eu nunca coloquei um cigarro na boca, nem usei nenhum tipo de droga. Me tornei vegetariana logo quando me pareceu oportuno e não sou escrava da moda nem do consumo, desta necessidade obsessiva de ter sempre a novidade do momento. 

Me incomoda muito pouco a aparência do meu corpo, na verdade. Você pode já ter me ouvido reclamar a respeito, mas eu consigo me observar no espelho e me melindrar com um ou dois pequenos detalhes, enquanto pessoas conseguiriam citar o corpo inteiro, caso fizessem uma lista de coisas desagradáveis em si mesmas.

O lado bom é eu ter aprendido a não me abalar tanto pelas críticas ou observações alheias no que diz respeito apenas a mim e mais ninguém, a não seguir padrões ditados pela sociedade apenas para tentar fazer parte dela. A vida é minha, é curta e passa rápido, se a sua crítica não me ajuda a evoluir, sinto muito, descarto mesmo.

Mesmo ainda equivocada para o mundo em muitos aspectos, o importante é eu não estar equivocada, principalmente, para mim.

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