sexta-feira, 25 de novembro de 2011




E então eu olhei ao meu redor. E calculei quantos anos foram necessários para construir esta realidade, quantos anos permaneço assim, e em quantos anos pretendo derrubar tudo.

Acariciava com os olhos cada canto do meu quarto, quando indaguei o que tudo aquilo, afinal, representa. Esta permanência. Cada objeto meu, cada decoração tão calculada. Como se quisesse compensar 18 anos sem um quarto para chamar de meu. E o tempo parou. Percebi como nada é realmente tão estável quanto parece. Não pode ser!

E então a garganta apertou, e chorei um choro meio sofrido, meio represado, paulatino. 
Me senti ridícula, me sinto ridícula. Quer dizer... Paula, quanto tempo você realmente achava que isso iria durar? Morar com os pais...

Na verdade, é como se isso não tivesse passado pela minha cabeça. Não era uma questão. Digo... É claro que eu sempre quis uma casa minha, para fazer as coisas do meu jeito, sem dar satisfação à ninguém, essas coisas. Quem não quer? Mas há algo de permanente na maneira como eu habito esta casa. Da mesma maneira como sempre habitei, com aquela despreocupação infantil, adolescente. 

Minha infância e minha adolescência foram eternas! Eternas! Estava tudo tão distante e era tudo tão óbvio. Morar na casa dos meus pais é óbvio! Faz sentido, entende? Como sempre fez. Aquela lógica: 

- Aonde você vai estar no próximo ano? 
- Ah, vou estar aqui.
- Aqui?
- É. Aqui, na minha casa.
- Fazendo o quê?
- Estudando.
- Ah é?
- É, ué. Para passar de ano na escola.

Choque.

Eu não estou mais na escola.

Choque de novo.

Estava na faculdade já. No TERCEIRO e penúltimo ano da faculdade.

Catarse.

E você quer saber de uma coisa? Próximo ano eu não faço a MENOR idéia de onde eu estarei ou o que estarei fazendo!

De repente nada é previsível, nada é óbvio, nada é permanente.

E o choro retorna, engasgando, esmagando, arranhando antes de se transmutar em lágrimas inocentes. "É mesmo? É verdade? É verdade que um dia devo sair da casa dos meus pais? É? É verdade que estou envelhecendo? Que a vida está passando?".

O choro retorna num lamento, porque me sinto irremediavelmente vulnerável diante da instabilidade da vida. Impotente diante do tempo.

"Eu não quero. Eu não quero!", imploro por dentro. Me apego a cada átomo desta casa, a única coisa aparentemente concreta na minha vida desajeitada.

Não imaginava, até o momento, o tamanho do meu medo. É como se para me sentir livre precisasse me sentir presa. Nunca me imaginei dizendo isso, mas digo: "eu quero estar presa!"

O que o desespero não é capaz de fazer, não é mesmo?

Me assusta a minha aflição em mudar! Resistência tamanha não é possível! Preferir uma liberdade cerceada... De novo: me sinto RI-DÍ-CU-LA. 

Mas ao mesmo tempo tão justificada.

2 comentários:

Ana disse...

Lendo este texto no dia em que realizo: mesmo depois de quase 4 anos morando na MINHA casa, meus sonhos, quase todos ainda se situam na casa dos meus pais.... E olha que eu não fiquei nada saudosa ao sair de lá... :*

Unknown disse...

É mesmo? Interessante.... Me fala mais sobre isso depois? =]
Beijos Aninha querida!

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